20 agosto 2022 14:22

‘Paulo’ é uma das centenas de vítimas que se queixaram à comissão independente nos últimos meses
Investigação. Padre denunciante entregou uma lista de nomes de sacerdotes suspeitos à Igreja. Há versões diferentes entre dioceses sobre pároco investigado. Conferência Episcopal Portuguesa diz que os bispos pediram perdão às vítimas em abril
20 agosto 2022 14:22
As vítimas de padres que prestaram depoimento na Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa não pretendem qualquer indemnização monetária pelos danos físicos e psicológicos de que foram alvo quando eram menores de idade. “A Igreja deve um pedido de desculpas a todas as vítimas e os padres suspeitos devem ser julgados”, defende ‘Rui’, que foi alvo de um padre ainda em funções. Vinte anos depois dos acontecimentos que o traumatizaram, quando era escuteiro numa paróquia de Lisboa, decidiu quebrar o silêncio a que se tinha remetido desde então. Foi uma amiga que o convenceu a depor à equipa liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e em março ganhou coragem. “Contei-lhes tudo aquilo que me tinha acontecido. A conversa foi rápida, até porque é um tema de que não gosto de falar.”
Foi também em março que ‘Paulo’ revelou à comissão independente os avanços inapropriados de um padre sobre um grupo de escuteiros e acólitos de que fazia parte, em Lisboa, entre 1997 e 2003. “Não queremos dinheiro. O que gostaríamos de ter era um pedido de desculpas formal da Igreja e do Patriarcado de Lisboa que pudesse reparar a nossa honra. Uma compensação por tudo o que nos obrigaram a passar e a engolir de forma injusta.” ‘Paulo’ não perdoa a atitude dos últimos dois patriarcas de Lisboa — tanto José Policarpo como Manuel Clemente —, que, garante, “sabiam do que se passava mas ignoraram as nossas queixas na altura” e “apenas transferiram o padre de uma paróquia para outra, não resolvendo o problema nem investigando a fundo”. Apesar do tempo passado sobre os alegados abusos, ainda tem esperança de que algo possa ser feito. “Espero que pelo menos a hierarquia eclesiástica admita que falhou e que protegeu malfeitores, mesmo que para isso as vítimas e os denunciantes acabassem silenciados e injustiçados.” Pede, por isso, “justiça” e que a Igreja em que acredita “não permita que os mais fracos possam ser silenciados para proteger criminosos de batina”. No caso concreto deste padre, há um rasto de alegados abusos e assédio em acampamentos de escuteiros, no interior de carros e em casas de férias, onde costumava convidar jovens acólitos, escuteiros e seminaristas. “Há muitos mais casos cometidos por este padre que nunca foram denunciados, possivelmente por medo das vítimas”, assegura ‘Paulo’.