
Investigação. Padre denunciante entregou uma lista de nomes de sacerdotes suspeitos à Igreja. Há versões diferentes entre dioceses sobre pároco investigado. Conferência Episcopal Portuguesa diz que os bispos pediram perdão às vítimas em abril
Investigação. Padre denunciante entregou uma lista de nomes de sacerdotes suspeitos à Igreja. Há versões diferentes entre dioceses sobre pároco investigado. Conferência Episcopal Portuguesa diz que os bispos pediram perdão às vítimas em abril
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As vítimas de padres que prestaram depoimento na Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa não pretendem qualquer indemnização monetária pelos danos físicos e psicológicos de que foram alvo quando eram menores de idade. “A Igreja deve um pedido de desculpas a todas as vítimas e os padres suspeitos devem ser julgados”, defende ‘Rui’, que foi alvo de um padre ainda em funções. Vinte anos depois dos acontecimentos que o traumatizaram, quando era escuteiro numa paróquia de Lisboa, decidiu quebrar o silêncio a que se tinha remetido desde então. Foi uma amiga que o convenceu a depor à equipa liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e em março ganhou coragem. “Contei-lhes tudo aquilo que me tinha acontecido. A conversa foi rápida, até porque é um tema de que não gosto de falar.”
Foi também em março que ‘Paulo’ revelou à comissão independente os avanços inapropriados de um padre sobre um grupo de escuteiros e acólitos de que fazia parte, em Lisboa, entre 1997 e 2003. “Não queremos dinheiro. O que gostaríamos de ter era um pedido de desculpas formal da Igreja e do Patriarcado de Lisboa que pudesse reparar a nossa honra. Uma compensação por tudo o que nos obrigaram a passar e a engolir de forma injusta.” ‘Paulo’ não perdoa a atitude dos últimos dois patriarcas de Lisboa — tanto José Policarpo como Manuel Clemente —, que, garante, “sabiam do que se passava mas ignoraram as nossas queixas na altura” e “apenas transferiram o padre de uma paróquia para outra, não resolvendo o problema nem investigando a fundo”. Apesar do tempo passado sobre os alegados abusos, ainda tem esperança de que algo possa ser feito. “Espero que pelo menos a hierarquia eclesiástica admita que falhou e que protegeu malfeitores, mesmo que para isso as vítimas e os denunciantes acabassem silenciados e injustiçados.” Pede, por isso, “justiça” e que a Igreja em que acredita “não permita que os mais fracos possam ser silenciados para proteger criminosos de batina”. No caso concreto deste padre, há um rasto de alegados abusos e assédio em acampamentos de escuteiros, no interior de carros e em casas de férias, onde costumava convidar jovens acólitos, escuteiros e seminaristas. “Há muitos mais casos cometidos por este padre que nunca foram denunciados, possivelmente por medo das vítimas”, assegura ‘Paulo’.
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