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“É um falhanço de todos, enquanto sociedade”: há 100 anos que não havia mais de 10 mil mortes todos os meses

“É um falhanço de todos, enquanto sociedade”: há 100 anos que não havia mais de 10 mil mortes todos os meses
PATRICIA DE MELO MOREIRA/Getty Images

Número de óbitos entre janeiro e julho não supera os de 2021, mas continua muito elevado e com um padrão quase inédito. Só em julho registaram-se 1716 mortes em excesso. Especialistas alertam para efeitos socioeconómicos, sobretudo entre idosos, e pedem estudo urgente. Mortalidade deve levar a novo recuo da esperança de vida

Desde o início do ano que todos os meses morrem mais de 10 mil pessoas em Portugal, o que é excecional, particularmente nos meses de maio e junho. Só em 1923, no rescaldo da pandemia de gripe espanhola, é que se encontra um padrão semelhante ao deste ano. Embora o número de óbitos entre janeiro e julho não tenha superado os do mesmo período do ano passado, a dimensão desta mortalidade já aponta para um novo recuo da esperança média de vida. O calor, o frio, a covid-19, a gripe e o envelhecimento são explicações plausíveis para os números elevados, mas há outras hipóteses que não podem ser descartadas, como as consequências de um menor acesso a cuidados médicos durante a pandemia e de um aumento das dificuldades económicas com impacto na mortalidade dos mais velhos. Os especialistas pedem mais dados e um estudo urgente.

“Parece incontornável que estamos com um padrão de mortalidade diferente daquele que conhecemos e de que temos registo. Nem todo o excesso de óbitos que estamos a observar é inesperado, mas algo não está bem. Claramente, estamos perante um sinal de alerta”, afirma Paulo Jorge Nogueira, bioestatístico e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que há mais de duas décadas estuda a mortalidade em Portugal. “Não creio que se esteja a olhar para o problema além de elencar as justificações plausíveis. Não há dúvida de que estamos a ter cada vez mais mortalidade e o envelhecimento conta, mas não explica tudo. Passa-se algo a nível socioeconómico.”

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