Sociedade

Luísa Salgueiro: "As alterações climáticas não pedem licença para entrar nas nossas vidas"

Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos.
Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos.
RUI MANUEL FARINHA / Lusa

Matosinhos acolhe encontro preparatório da Conferência dos Oceanos, coorganizada por Portugal e Quénia sob a égide da ONU. Pacto de autarcas visa descarbonizar territórios, promover renováveis e garantir acesso universal a serviços sustentáveis a custos acessíveis

Luísa Salgueiro: "As alterações climáticas não pedem licença para entrar nas nossas vidas"

Isabel Paulo

Jornalista

A presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, advertiu, este sábado, que o mundo e o nosso país têm sido cada vez mais desafiados com fenómenos como incêndios e seca severa. Sendo Portugal um país costeiro, enfrenta ainda episódios recorrentes de subida do nível mar e galgamentos.

"As alterações climáticas não pedem licença para entrar nas nossas vidas", alertou Luísa Salgueiro, no Terminal de Cruzeiros de Matosinhos, onde este sábado arrancou o evento preparatório da II Conferência dos Oceanos, que se realiza em Lisboa a partir de segunda-feira e até 1 de julho.

A autarca anfitriã do encontro dedicado ao poder local lembrou que os oceanos contêm 97% do oxigénio que respiramos.

"Não há desenvolvimento sustentável sem preservação dos oceanos", referiu a autarca, defendendo que as cidades costeiras devem estar "especialmente interligadas" na proteção do mar e dos oceanos, já que a maioria das descargas poluentes provêm de atividades terrestres, industriais e agrícolas.

Para a também líder da Assocação Nacional de Municípios (ANMP), a pandemia e a guerra na Ucrânia obrigam a Europa e o mundo a enfrentar "danos sociais e económicos" num momento decisivo para travar a fundo as alterações climáticas, razão pela qual "é preciso que pensemos a longo prazo". "Não podemos perder o foco, pois o tempo é determinante para assegurar o futuro das próximas gerações", notou a autarca, alertando os representantes de mais de uma centena de países de que as "alterações climáticas vão intensificar-se ainda mais rapidamente daqui para a frente".

Luísa Salgueiro salienta que o pacto de autarcas para 2050 é claro: trabalhar em conjunto para mitigar danos e contribuir para a promoção das energias renováveis. Segundo a autarca, a ação presente e futura deverá ser estruturada em três dimensões - descarbonizar territórios para manter o aquecimento global médio abaixo dos 2 graus Celsius, em linha com o acordo climático internacional de Paris, construir territórios resilientes capazes de lidar com os efeitos adversos das alterações climatéricas, e garantir o acesso universal a serviços sustentáveis e a custos acessíveis a todos.

"Os municípios estão empenhados no desafio, reforçando a oferta de energias renováveis, aumentando a eficiência energética e reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa", afiança. Para a autarca, o poder local e os municípios, bem como os governos regionais em todo o mundo, são fundamentáveis para proteger o oceano, por gerirem numa lógica de proximidade.

Por experiência própria, Luísa Salgueiro refere que, pelas suas caraterísticas, Matosinhos corre riscos acrescidos, desde riscos tecnológicos, por albergar o segundo porto de mercadorias do país, o porto de Leixões, onde decorre a conferência, ter uma refinaria em fase de desmantelamento, estradas estruturantes a nível regional e nacional. "E ferrovia que atravessa o nosso território com materiais perigosos, além de parte do segundo maior aeroporto do país estar aqui parcialmente localizado", recorda.

A meta é, por isso, "trabalhar para construir comunidades mais resilientes e sustentáveis", conclui a autarca socialista, que fez questão de lembrar que Matosinhos foi distinguida recentemente como a primeira cidade portuguesa reconhecida como 'Resiliente Hub' pela ONU: "Foi um testemunho da nossa capacidade de planeamento de emergência e de gestão de recursos".

Para o efeito, a Câmara de Matosinhos desenvolveu uma estratégia de 10 anos de zero incêndios, com campanhas de consciencialização e a criação da 'Casa Segura' ou o 'Alertinha', projeto que vai ensinar os cidadãos, sobretudo os mais idosos, a prevenir riscos em termos de proteção civil.

"O maior desafio é equilibrar o combate às alterações climáticas com o crescimento económico sustentável, criação de emprego e coesão territorial", antecipa Luísa Salgueiro, uma responsabilidade "ainda maior para as comunidades costeiras que dependem do oceano para a sua subsistência e, como tal, é urgente proteger os ecossistemas".

A economia do mar emprega em Matosinhos 8% da população ativa, a indústria alimentar mobiliza 237 milhões de euros, com um crescimento anual médio do volume de negócios de cerca de 4%. Já o turismo intimamente ligado ao mar apresentou uma taxa de crescimento de dois dígitos até 2020, o primeiro ano da pandemia.

"É por isso um segmento fundamental para a nossa dinâmica económica, enraizado na história e tradições locais. Para proteger os sectores tradicionais, a nossa cidade está em sintonia com a dupla transição ambiental e difital para pomover um odelo descarbonizado sustentável", adiantou a anfitriã do encontro preparatório da Conferência dos Oceanos, lembrando que a economia azul é uma opotunidade para criar novos empregos, razão que levou Matosinhos a ser membro da rede 'Blue Act'. "Vimos aprovada a nossa candidatura do hub do mar para construir uma industria azul sustentável", anunciou.

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