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Habitação cada vez mais inacessível à classe média: como aqui chegámos e como podemos sair

Habitação cada vez mais inacessível à classe média: como aqui chegámos e como podemos sair
Nuno Fox

País conta com apenas 2% de habitação pública. Custo das casas disparou a partir de 2015, mas os salários médios têm-se mantido quase inalterados

O maior sonho de Ana Teresa Sebastião, de 27 anos, tem poucos metros quadrados e vista para lado nenhum. Bastar-lhe-ia uma casa em Lisboa, “minúscula”, comprada ou arrendada, e a possibilidade de, ao fim do dia, se deitar sozinha no sofá para usufruir de um livro, em silêncio, incomodada por ninguém. Um luxo simples. Mesmo com um ordenado a rondar os 1200 euros, enquanto analista de metadados, o seu desejo ainda está muito longe do alcance.

Há uma década que trocou São Brás de Alportel, no Algarve, pela capital. Desde então, já mudou sete vezes de morada. Coabitou ao todo com 19 pessoas, dos vários cantos do mundo. No processo já lhe aconteceu de tudo: dormiu num quarto do tamanho de uma despensa, sem porta, apenas com acesso através do quarto de um amigo; noutra das casas sofreu uma infestação de ratos e baratas; e noutra foi “expulsa” pela senhoria de um mês para o outro. Atualmente, divide um T4, no Bairro do Rêgo, em Lisboa, com três amigos, e paga 333,25 euros por um quarto. Mas não é isso que sonha para si. Apesar de estar a pagar “um preço ótimo” para o centro da cidade, afirma precisar “desesperadamente” de viver sozinha. “O espaço é de todos e não está à maneira de ninguém. Apesar de eles serem meus amigos, nunca estou completamente à vontade fora do quarto. E nem tenho vontade de trazer novos amores ou paixões cá a casa.” É na faixa etária de Ana Teresa, dos jovens até aos 29 anos, que a subida das rendas levou a maior declínio nas condições de habitação. Segundo um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, houve um aumento de 19,4%, em 2011, para 42,2%, em 2017, dos casos de privação de condições de habitação por parte destes jovens. Mas a realidade rapidamente se tornou abrangente.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

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