Sociedade

Um em cada três hospitais do SNS não faz abortos: há distritos inteiros onde o acesso falha

9 junho 2022 20:37

Joana Ascensão

Joana Ascensão

textos

Jornalista

Sofia Miguel Rosa

Sofia Miguel Rosa

infografia

Jornalista infográfica

catherine mcqueen

O aborto não está à mesma distância para todas. O caminho no interior do país, como em tantos outros pontos, diverge do do litoral. Há mulheres a irem do Alentejo e dos Açores a Lisboa, e de Leiria a Coimbra para uma IVG

9 junho 2022 20:37

Joana Ascensão

Joana Ascensão

textos

Jornalista

Sofia Miguel Rosa

Sofia Miguel Rosa

infografia

Jornalista infográfica

O aborto não está à mesma distância para todas. O caminho no interior do país, como em tantos outros pontos, diverge do do litoral. Há distritos inteiros onde o acesso falha. De acordo com números da Direção-Geral da Saúde partilhados com o Expresso, cerca de dois terços (69,8%) dos hospitais do SNS realizam consulta de interrupção voluntária da gravidez (IVG). E são 13, num total de 45, os que não a disponibilizam. Mas na mancha do país as realidades divergem tanto ou mais do que as idiossincrasias do território. De Beja a Portalegre escasseia o serviço: as mulheres têm de se dirigir a Lisboa ou a Faro, no Algarve. Sendo gratuito, mesmo quando encaminhadas para o privado, há três dias obrigatórios entre a consulta prévia e o procedimento em si, com o tempo fora de casa e as deslocações pagas pela mulher.

Também nos Açores faltam opções. Dos três hospitais do arquipélago, só o Hospital da Horta, na ilha do Faial, tem consulta de IVG, e depende da “deslocação e disponibilidade presencial de um médico especialista (externo)”. No caso de este não poder, como para os outros dois hospitais, o de São Miguel e o da ilha Terceira, “o procedimento é referenciar as utentes para uma unidade privada de saúde localizada em território continental”, diz ao Expresso a Direção Regional de Saúde dos Açores, sem especificar qual nem esclarecer se as despesas de deslocação e de estada na capital são asseguradas. Mas também em Cascais, onde já existiu serviço, deixou de existir. Também falta em Setúbal e no Hospital Amadora-Sintra, localizado numa área “de grande densidade populacio­nal, com muitas mulheres em idade fértil”, descreve Maria José Alves, médica obstetra responsável pela consulta de IVG na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. Dos hospitais da ARS de Lisboa e Vale do Tejo quase metade (6 em 13) não tem consulta de IVG. Em muitos nunca chegou a existir.