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''Dois Países, um Destino": presidentes do Turismo do Porto e Norte e da Galiza apostam em promoção conjunta das duas regiões

''Dois Países, um Destino": presidentes do Turismo do Porto e Norte e da Galiza apostam em promoção conjunta das duas regiões
ARoxo / Getty Images

Após dois anos de retração turística, Luís Pedro Martins e Cesáreo Pardal revelam que a recuperação do sector aproxima-se dos níveis de procura pré-pandemia. A guerra travou reservas já feitas, mas foram compensadas por marcações de última hora.

''Dois Países, um Destino": presidentes do Turismo do Porto e Norte e da Galiza apostam em promoção conjunta das duas regiões

Isabel Paulo

Jornalista

O evento 'Galicia Meets Portugal', realizado em Vila Nova de Gaia, trouxe ao norte três dezenas de operadores turísticos galegos em busca de sinergias entre as duas regiões. Sob o lema ', 'Dois Países, um Destino', a aposta passa pela promoção internacional conjunta dos dois territórios e do nicho do turismo religioso. Em entrevista cruzada, Luís Pedro Martins, presidente da entidade do Turismo do Porto e Norte de Portugal, e Cesáreo Pardal, presidente do cluster de Turismo da Galicia, falam das mudanças no sector devido à pandemia e do reflexo da guerra da Ucrânia no mercado turístico

A procura turística (na Galiza e norte de Portugal) já retomou os níveis do ano pré-pandemia?
Luís Pedro Martins
- Os indicadores oficiais do mês de março indicaram que estamos já muito próximos dos números de 2019. Aguardamos com expectativa os dados de abril, que segundo as informações das unidades hoteleiras será um mês com indicadores já a par do ano pré-pandemia, o que nos deixa a todos muito satisfeitos e com redobradas esperanças numa retoma efetiva e sustentável.

Cesáreo Pardal- Estamos próximos dos números de 2019. O melhor barómetro foi o da Semana Santa, período em que a Galiza registou níveis de ocupação hoteleira entre os 70% e 90%, em algumas zonas ao nível dos anos pré-pandémicos. O Xacobeo 21-22 (celebrado durante dois anos devido à pandemia) está a revelar-se a chave da recuperação do sector, com níveis de procura recorde. Entre janeiro e abril chegaram à Galiza mais de 45.500 peregrinos, superando os números do período homólogo de 2019. Neste sentido, a perspetiva para a época estival é boa.

Quais são os destinos mais procurados no pós-confinamentos?
Luís Pedro Martins - O Porto apresenta sinais de retoma bastante interessantes em abril, bem como os principais destinos de cidade, situação bem diferente dos anos anteriores onde as cidades tinham sido os destinos mais sacrificados. Os territórios de baixa densidade continuam a ser bastante procurados, embora já apresentassem números expressivos, mesmo durante a pandemia com taxas de ocupação acima dos 90%.

Cesáreo Pardal - A Galiza conjuga boa parte das tipologias turísticas preferidas pela maioria dos turistas. Estamos a apostar forte na sustentabilidade, com uma maior oferta de experiências nas diferentes rotas do Caminho de Santiago, e múltiplas possibilidades de turismo rural, fluvial, marítimo, termal ou gastronómico. Sem perder de vista os nossos seis parques naturais e o facto de sermos uma das comunidades com mais praias bandeira-azul. Tudo isto encaixa-se na mudança de paradigma dos hábitos de consumo dos viajantes.

O perfil e nacionalidade dos turistas mudaram nestes dois anos de covid-19?
Luís Pedro Martins - Em termos de perfil, as mudanças não foram significativas, sendo que agora, por razões óbvias, é dada muita importância às questões de segurança sanitária. Quanto a nacionalidades, trabalhamos ainda na recuperação dos mercados de longa distância, como o Brasil, Estados Unidos, Canadá e países da Ásia Pacífico, fruto sobretudo da diminuição da oferta de rotas aéreas. Em relação a subidas, existe um mercado em ascensão, o mercado britânico, fruto da aposta que efetuamos com o Turismo de Portugal em termos de investimento na promoção no Reino Unido e, mais uma vez, fator decisivo, o aumento das ligações aéreas para o Porto, com a British Arways e Easy Jet a apostarem claramente na região.

Cesáreo Pardal - Aumentou o turismo nacional e o internacional está a crescer sobretudo através do Caminho de Santiago. E nesta época, tal como nos anos anteriores, estamos dependentes da reconfiguração do plano de voos dos nossos três aeroportos, o influenciará positivamente a vinda de turistas de outros países. Queremos destacar o peso do turismo português durante a pandemia, período em que se registou um crescimento do número de visitantes. Estamos agradecidos aos nossos vizinhos, até porque a tendência mantém-se: só no primeiro trimestre deste ano, visitaram a Galiza mais de 117 mil turistas portugueses.

Que tipo de cooperação/negócios visa promover o evento 'Galicia Meets Portugal'?
Luís Pedro Martins
- Este evento trouxe ao Porto três dezenas de operadores turísticos galegos (alojamento, agências de viagem e representantes de destino) para apresentarem a sua oferta junto das agências de viagem de outgoing da Região Norte, tendo contado com a presença de 70 agentes. A densidade de agentes muito relevantes no sector deu a possibilidade de realização de dezenas de reuniões de negócios presenciais, tão prementes nesta fase pós pandemia. E intensificou-se a possibilidade de comercialização da oferta turística das duas regiões ao longo de toda a cadeia de valor comercial. As duas regiões cooperam e em breve teremos uma ação semelhante de empresas portuguesas na Galiza. Institucionalmente, lançaram-se as bases de uma estratégia de promoção conjunta das duas regiões (Galiza e Norte de Portugal), anunciado como 'Dois Países, um Destino'.

Cesáreo Pardal - Queremos reforçar a nossa cooperação e incrementar o fluxo turístico entre os dois países. A ideia é promover a Galiza e o Norte de Portugal como um destino conjunto. Sob o lema 'Dois Países, um Destino', pretendemos aproveitar as nossas sinergias como o Aeroporto do Porto, o Camilnho Português e o turismo religioso que, além de Santiago de Compostela, engloba Fátima e Lourdes para captar a chegada de turistas internacionais, tanto à Galiza como ao Norte de Portugal.

Já se nota o reflexo da guerra na Ucrânia na procura turística?
Luís Pedro Martins - Notamos um pequeno decréscimo do mercado alemão,da República Checa e Polónia. Embora o mercado russo tivesse muito pouca expressão, ficou naturalmente reduzido a zero. Por enquanto, os efeitos da guerra ainda não se notaram com expressão nos mercados, mas no futuro as consequências são imprevisíveis, sobretudo devido às questões energéticas, matérias-primas, custo de vida e possível crise económica.

Cesáreo Pardal - O estalar da guerra, umas semanas antes da Semana Santa, provocou uma travagem de reservas e até cancelamentos, mas a situação acabou por ser revertida com reservas de última hora e a ocupação superou as expectativas. Claro que esta situação e a subida dos combustíveis afetam o poder de compra das famílias, mas, atendendo à evolução registada na Semana Santa, estamos confiantes que, mesmo com estadias mais curtas, o fluxo turístico não será significativamente abalado neste verão e no resto do ano.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: IPaulo@expresso.impresa.pt

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