Duas semanas após ter sido alvo de um ataque informático do tipo “ransomware”, está longe de ter voltado ao normal o funcionamento do Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Ainda não foi restabelecido o acesso à rede informática, o que afeta a normalidade de muitos dos procedimentos entre os vários serviços do hospital e também de dentro para fora dele.
“Não há previsão de quando poderemos ter acesso à internet”, pode ler-se numa circular de 2 de maio, a que o Expresso teve acesso, confirmada esta semana por uma enfermeira que preferiu não ser identificada: “A situação é bastante desagradável. Regressámos ao registo em papel para tudo, o que dificulta bastante o trabalho e a fluidez de informação entre os diferentes serviços. Foi um retrocesso gigante na operacionalização dos processos”, testemunha.
O documento informativo confirma o que antes já se sabia. Todos os servidores do hospital foram afetados, tendo sido bloqueados “para evitar uma propagação dos danos”, como chegou a dizer o hospital ao Expresso. Isso leva a que todos os postos de trabalho necessitem de ser formatados, “por forma a eliminar o vírus”.
Entretanto, não é possível aceder ao histórico da prescrição de exames e medicamentos, “devendo todos os MCDT [meios complementares de diagnóstico e terapêutica] necessários serem realizados novamente”, lê-se também.
De momento sem capacidade para fazer rastreios provenientes do Programa de Rastreio, os novos exames devem ser estreitados ao “imprescindível”, ou seja, a todas as situações em que se tornam fundamentais para tomar decisões clínicas. E quanto aos registos informáticos, devem ser priorizados os dos novos doentes.
A situação faz com que os profissionais tenham “ainda mais trabalho, a confirmar a informação telefonicamente com outros serviços. Por exemplo, no caso de exames, de análises, de dietas, da farmácia. Tudo é escrito à mão e confirmado telefonicamente”, descreve a enfermeira contactada pelo Expresso.
“Com o sistema informático tudo isto estava automatizado. O médico fazia o pedido de exame que automaticamente aparecia no sistema do serviço de destino”, refere, a título de exemplo. “Apesar do esforço colossal de todos para resolver a situação no curto prazo, o “curto” prazo é sempre demasiado longo”.
Atividade cirúrgica sem constrangimentos
Segundo uma notícia publicada pelo Expresso, o vírus que infetou os servidores deste hospital e do Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém, também alvo de uma tentativa de ataque informático no final de abril, foi “disseminado pela rede dos serviços partilhados do ministro da Saúde”, a SPMS.
Na sequência do ataque dia 26 de abril, foi ativado um plano de contingência, que se mantém implementado. A atividade cirúrgica programada e de ambulatório continuou a ser assegurada. As consultas externas foram afetadas, pelo que o HGO chegou a apelar aos utentes para que se deslocassem ao hospital apenas se estritamente necessário, de forma a não sobrecarregar o Serviço de Urgência.
Já é a segunda vez que esta unidade hospitalar é alvo de hackers. O primeiro ataque ocorreu em 2016, tendo o caso sido revelado publicamente só no ano seguinte.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jascensao@expresso.impresa.pt