Sociedade

Morreu Sidney Poitier, “Martin Luther King dos filmes” e primeiro ator negro a receber um Óscar

7 janeiro 2022 16:33

Poitier morreu esta quinta-feira, nas Bahamas, aos 94 anos. Ícone antirracista, participou em mais de 50 filmes. Entre as suas personagens mais memoráveis estão aquelas em que a questão racial era retratada, algo considerado uma ousadia numa época em que o tema não fazia parte dos principais filmes de Hollywood

7 janeiro 2022 16:33

“Por ter sido longo o caminho até este momento, estou naturalmente em dívida com inúmeras pessoas, principalmente Ralph Nelson, James Poe, William Barrett, Martin Baum e, claro, os membros da Academia. A todos eles, tudo o que posso dizer é um agradecimento muito especial.” Foram simples as palavras escolhidas por Sidney Poitier, quando recebeu o Óscar de Melhor Ator em 1964, mas o que se assistia ali era história. Era a primeira vez que um ator negro recebia o galardão, 36 anos depois da primeira edição.

Antes disso, em 1957, já tinha sido o primeiro negro premiado no Festival de Cinema de Veneza. “Sangue Sobre a Terra” era o filme em destaque. Logo depois, em 1958, “Acorrentados” valera-lhe a nomeação ao Óscar, mas acabou por não vencer.

Em plena convulsão racial e social norte-americana, Sidney Poitier havia-se tornado num verdadeiro ícone antirracista. Entre as suas personagens mais memoráveis estão aquelas em que a questão racial era retratada, algo considerado uma ousadia numa época em que o tema não fazia parte dos principais filmes de Hollywood. Por isso foi apelidado de “Martin Luther King” dos filmes, por um biógrafo.

“Antes de Sidney, os atores afroamericanos tinham de assumir papéis secundários nos grandes estúdios”, para que fosse “fácil cortá-los em certas partes do país”, recordou Denzel Washington em 2002, quando Sidney Poitier recebeu o Óscar Honorário. “Mas não se podia cortar Sidney Poitier de um filme de Sidney Poitier”, concluiu o também ator na cerimónia da Academia.

Natural das Bahamas mas nascido a 20 de fevereiro de 1927 em Miami de forma acidental – o parto aconteceu durante uma visita dos pais à cidade norte-americana -, Sidney cresceu na Ilha Cat até se mudar para os Estados Unidos, onde viria a ser amplamente reconhecido (também fora de portas, com a rainha Isabel II a nomeá-lo cavaleiro em 1974).

Já em 1999, o American Film Institute decidiu incluí-lo na sua lista dos maiores nomes masculinos de Hollywood. Em 2009, foi a vez do Presidente Barack Obama lhe conceder a Medalha Presidencial da Liberdade. Já no último ano, o Academy Museum of Motion Pictures quis dar o seu nome à entrada do edifício – o Sidney Poitier Grand Lobby. Também a Arizona State University chamou Sidney Poitier New American Film School à sua nova escola de cinema.

Homem habituado a estar à frente das câmaras – fez mais de 50 filmes -, nunca escondeu o gosto pelo lado mediático, sem nunca esquecer a responsabilidade de representar muitos dos que à época ainda não tinham voz. “Tinha um sentido de responsabilidade, não só para comigo e para com o meu tempo, mas também para com as pessoas que representava”, disse em 2008. Morreu esta quinta-feira, 5 de janeiro, nas Bahamas. Tinha 94 anos.