A máquina do tempo ainda não existe, mas Inês Lynce, presidente do INESC-ID, não tem dúvidas de que “os cientistas estão sempre no futuro”, a tentar desenvolver algo que nos faça falta. O desenvolvimento de terapias ainda mais eficazes no combate ao Sars-Cov-2 é um desejo que provavelmente habita qualquer mente futurista que pense em 2022, mas há seguramente outros que possivelmente já não deverão demorar a concretizar-se: a proliferação de ferramentas de Inteligência Artificial que ajudam a fazer ciência, baterias e painéis fotovoltaicos mais eficientes e até o rejuvenescimento de órgãos para evitar doenças oncológicas.
É sobre estas tendências que poderão dar que falar em 2022 que o Expresso questionou quatro personalidades ligadas à engenharia e às ciências – sempre sem perder de vista o que trouxe de novo o ano que agora finda. Até porque “não há inovações do zero”, recorda João Falcão e Cunha, diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
E olhando para trás tanto podemos enaltecer o desenvolvimento de um sistema que permite reproduzir imagens de proteínas a partir de códigos genéticos, como devemos manter no registo cronológico o lançamento das primeiras missões aos limites da atmosfera de âmbito turístico, o recente lançamento do telescópio Webb ou até a digitalização acelerada que as plataformas de teletrabalho promoveram nos últimos dois anos. Nenhum destes três exemplos pode ser apontado como uma “descoberta científica”, mas todos eles são provas daquilo que a ciência é capaz.
Em contrapartida, as novas plataformas que facilitam o desenvolvimento de ferramentas de realidade virtual, as traduções automáticas em videoconferências, os auriculares que são também óculos, os órgãos em chips, a euforia dos bens não fungíveis (NFT), os chips que permitem registar de perto as interações entre neurónios, os lombos que têm gosto e consistência de carne mas são feitos de vegetais e os novos testes com lápis e caneta que permitem detetar indícios de doenças degenerativas também deram o primeiro ar da sua graça em 2021 – mas só em 2022, ou mesmo depois, deverão começar a produzir efeito real. Porque afinal de contas o futuro vai sempre continuar a existir, aconteça o que acontecer.
Carlos Ribeiro, neurocientista e investigador principal da Fundação Champalimaud
É no cérebro que quase tudo começa – e Carlos Ribeiro terá a oportunidade de provar isso mesmo durante 2022 como secretário-geral eleito para a Federação de Neurociências da Europa. Em jeito de balanço, o investigador principal da Fundação Champalimaud também faz a devida homenagem aos criadores das primeiras vacinas covid-19, que começaram a ser distribuídas de 2020 para 2021, mas lembra que a medicina também pode sair beneficiada pelos vários projetos de mapeamento de cérebros e das diferentes ligações de neurónios de vários animais, que têm sido levadas a cabo por consórcio internacionais.
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