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Ciclistas vão percorrer a Almirante Reis para evitar que Carlos Moedas cumpra promessa eleitoral

Ciclistas vão percorrer a Almirante Reis para evitar que Carlos Moedas cumpra promessa eleitoral
Nuno Fox

O recém-eleito presidente da Câmara de Lisboa prometeu acabar com a ciclovia da avenida Almirante Reis, em Lisboa, mas a ideia tem sido contestada. Para a próxima semana está marcada uma “manifestação” a favor da ciclovia, cuja criação fez “diminuir o número de peões atropelados” e “aumentar a segurança” dos ciclistas. “Antes, só os mais experientes conseguiam circular pela avenida de bicicleta. Hoje em dia, já vemos crianças e pessoas de idade a fazê-lo”, justifica uma das organizadoras da iniciativa

Ciclistas vão percorrer a Almirante Reis para evitar que Carlos Moedas cumpra promessa eleitoral

Helena Bento

Jornalista

A intenção de acabar com a ciclovia da avenida Almirante Reis, em Lisboa, gerou descontentamento mal foi anunciada, mas agora que Carlos Moedas foi eleito para a câmara de Lisboa começa a haver contestação. Para a próxima semana, a 19 de outubro, está marcado um encontro de ciclistas para chamar a atenção para a necessidade de manter a ciclovia, organizado pelo movimento Massa Crítica Lisboa, um grupo informal que promove a utilização deste transporte. O ponto de encontro é na praça do Martim Moniz, tendo o percurso de bicicleta como destino a Praça do Município, onde se localiza a Câmara Municipal de Lisboa.

Ao Expresso, Catarina Lopes, que faz parte do movimento e é uma das organizadoras da iniciativa, explica ao Expresso que o evento “pretende exaltar, antes de mais, uma cidade para todas as pessoas e onde existe espaço para todos, nomeadamente para os utilizadores de bicicletas”. Quanto à Almirante Reis, há várias razões para não acabar com a ciclovia que foi ali criada, como Carlos Moedas prometeu fazer em abril deste ano. “A Almirante Reis era uma das avenidas mais perigosas em Lisboa, onde havia mais atropelamentos de peões, e isso diminuiu com a ciclovia.”

De resto, acrescenta, “é isso que acontece, por norma, quando se aumenta a mobilidade em bicicleta”. “Há uma diminuição da velocidade dos automóveis e são criadas mais condições de segurança para a circulação de toda a gente.” Isto inclui, claro, os próprios utilizadores de bicicleta, cuja “segurança também aumentou muito”. Antes da criação da ciclovia, os ciclistas confrontavam-se com obstáculos na avenida como os carris do elétrico, sobre os quais eram obrigados a circular, com todos os riscos que isso acarretava, e o “estacionamento ilegal na via da esquerda”, explica. “Só os mais experientes conseguiram circular pela avenida de bicicleta. Hoje em dia, já vemos crianças e pessoas de idade a fazê-lo.”

Quando não andamos de bicicleta, diz ainda Catarina Lopes, “tendemos a encarar as ciclovias como um estorvo, como algo que vai atentar contra o nosso conforto, e nem sequer criamos espaço para pessoas com outro tipo de mobilidade, que neste caso são os utilizadores de bicicletas, que têm tanto direito de circular na cidade em segurança como os peões e os automóveis.”

Circulação de veículos de emergência “melhorou” com a ciclovia

Na página do evento criada no Facebook, são destacadas outras razões para a manutenção desta ciclovia, como a que diz respeito à circulação de veículos de emergência, que “melhorou nesta artéria”. “Com a ciclovia, a Avenida Almirante Reis tornou-se mais acessível para pessoas com mobilidade reduzida”, lê-se também na descrição do evento, onde se apela, além disso, à promoção da utilização de bicicletas, que não devem ser colocadas “na porta dos fundos, mas sim na avenida principal, tal como a avenida da República, que hoje ninguém discute”. E se “é verdade que o tempo de deslocação em automóvel aumentou logo após a implementação da ciclovia”, este “reduziu passados uns meses, sendo hoje muito próximo” ao que era antes da criação das vias para os utilizadores de bicicleta, pelo “efeito de evaporação do tráfego”, que terá encontrado “alternativas”.

Em abril, em entrevista ao Público, Carlos Moedas, então candidato pelo PSD à autarquia de Lisboa, prometeu acabar com a ciclovia nesta avenida de Lisboa caso fosse eleito. “Ela está a criar mais poluição, temos as ambulâncias e autocarros que não conseguem parar. Ali não conseguimos fazer, mas temos ruas paralelas, podemos fazer ciclovias noutras ruas, podemos repensar o modelo”, afirmou na altura, acrescentando que quem então se queixava contra a iniciativa do executivo de Fernando Medina tinha “razão”. “Os vizinhos da Almirante Reis é que nunca foram ouvidos para nada. Um dia levantam-se, têm uma ciclovia e o trânsito está todo parado. Digo claramente: a ciclovia da Almirante Reis é para acabar.”

Na altura, Moedas não apresentou uma alternativa ao fecho das vias para ciclistas, e para Catarina Lopes e os restantes organizadores do evento (cerca de 20 pessoas no total, que têm em comum o facto de serem “utilizadores regulares de bicicleta” em Lisboa e estarem “conscientes dos desafios” de utilizar este meio para se deslocarem na cidade), isso seria o mais importante. As pessoas que andam de bicicleta, diz, “não podem ser menosprezadas”, e não se pode “retirar-lhes uma forma de circulação sem que haja uma alternativa” — e, já agora, “sem que essa alternativa tenha pés e cabeça”. “Há muitas coisas que se podem fazer para melhorar a Almirante Reis e, desse modo, aumentar a qualidade de vida e a segurança de toda a gente, inclusive para os peões”.

A jovem de 29 anos refere, em concreto, o trecho que falta entre a Alameda e o Areeiro para que a ciclovia em causa esteja completa. “A ausência de uma rede de ciclovias interligadas é, talvez, a maior crítica que se pode fazer ao plano. Há uma desfragmentação, que neste caso pode ser resolvida com a criação do trecho em falta.” É importante atingir “o potencial máximo da rede de ciclovias”, reforça, até porque é isso que se está a fazer um pouco por toda a Europa. “O caminho é nesse sentido. No sentido de ter cidades para as pessoas, onde se dá destaque à mobilidade pedonal e à bicicleta e transportes públicos, para assegurar a sustentabilidade. Já se percebeu que isso é absolutamente crucial para combater as alterações climáticas e preservar a saúde pública.”

O evento, que Catarina Lopes diz poder-se chamar uma “manifestação”, tem início às 18h00 da próxima terça-feira. O ponto de encontro é na praça do Martim Moniz, subindo-se de bicicleta a Almirante Reis e voltando a descer a avenida em direção à Praça do Município. A meta é em frente à Câmara Municipal de Lisboa.

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