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Clima. Temperaturas subirão na Europa a um ritmo superior à média mundial

Clima. Temperaturas subirão na Europa a um ritmo superior à média mundial
Marcos del Mazo / Getty Images

Subida acontecerá independentemente dos futuros níveis de aquecimento global, constata o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Calor marinho e incêndios vão alongar-se na Ásia, enquanto em África se antecipam mais chuvas fortes a par do aquecimento global

As temperaturas subirão em toda a Europa a um ritmo superior ao da média mundial, independentemente dos futuros níveis de aquecimento global, constata o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

No novo relatório do painel mundial de cientistas e ativistas - que prevê que os limiares críticos para ecossistemas e seres humanos sofram um aumento de dois ou mais graus -, a frequência de ondas de frio e dias de neve diminui na Europa, em todos os cinco cenários traçados e em todos os horizontes temporais.

Apesar da "forte" variabilidade interna, as tendências observadas nas temperaturas médias e extremas na Europa não podem ser explicadas "sem ter em conta os fatores antropogénicos [causado ou originado pela atividade humana]", realça a principal organização que estuda as alterações climáticas desde 1988.

Antes da década de 1980, o aquecimento provocado pelos gases com efeito de estufa era compensado, em parte, com as emissões antropogénicas de aerossóis, precisa o IPCC.

A redução da influência dos aerossóis nas últimas décadas deu lugar a uma tendência positiva observável na radiação de onda curta, acrescenta.

As observações apresentam um padrão sazonal e regional "coerente" com o aumento previsto das precipitações no inverno, no Norte da Europa, prevendo-se uma diminuição das precipitações no verão, no Mediterrâneo, que se estenderá às regiões do Norte, e um aumento das precipitações extremas e das inundações com níveis de aquecimento global superiores a 1,5 graus em todas as regiões, exceto no Mediterrâneo.

Chuvas fortes aumentarão no continente asiático

As ondas de calor marinho continuarão a aumentar e as temporadas de incêndios vão alongar-se na Ásia, especialmente no norte, refere o mesmo relatório.

Segundo os especialistas, as chuvas fortes aumentarão em grande parte do continente asiático, até porque o aumento observado na temperatura média da superfície "já deixou claramente" a faixa de variação habitual que se registava entre 1850 e 1900.

Os extremos de calor aumentaram e os extremos de frio diminuíram, tendências que continuarão nas próximas décadas, refere o documento, acrescentando que a velocidade média do vento de superfície diminuiu e continuará a diminuir no centro e no norte da Ásia.

Os glaciares estão a ficar mais pequenos e o 'permafrost' (camada de solo permanentemente congelada) está a derreter e tanto a duração da neve sazonal, como a massa glaciar e a área 'permafrost' vão continuar a diminuir durante todo o século XXI.

As altas montanhas asiáticas terão, até meio do século, cascatas crescentes de água derretida nos glaciares e isso deverá provocar uma subida do nível do mar ao redor da Ásia mais rápida do que a média mundial, com perda da zona costeira e recuo do litoral, alerta os especialistas das Nações Unidas.

O relatório revela que em todas as regiões haverá novos aumentos dos impactos climáticos crescendo as zonas quentes e diminuindo as frias. Assim, "declínios adicionais" são esperados no 'permafrost', nos glaciares e nos de gelo do Ártico, além de nos lagos e gelos marinhos.

O aquecimento esperado de 1,5 graus Celsius levará a que as chuvas fortes e consequentes inundações "se intensifiquem e se tornem mais frequentes" na maioria das regiões da África, Ásia, América do Norte e Europa. Além disso, espera-se que as secas agrícolas e ecológicas sejam "mais comuns e/ou severas" em algumas regiões de todos os continentes, exceto na Ásia, em comparação com o período correspondente de 1850-1900.

De acordo com o relatório, a precipitação média aumentará em todas as regiões polares, norte da Europa e norte da América do Norte, na maioria das regiões asiáticas e em duas regiões da América do Sul.

Segundo o relatório, "é praticamente certo" que haverá um aumento médio regional do nível do mar ao longo do século XXI, exceto em algumas regiões com "taxas significativas de elevação geológica da terra".

Face a um aumento relativo no nível do mar, os eventos extremos associados, que ocorriam uma vez por século no passado recente, deverão passar a registar-se, pelo menos, uma vez por ano em mais da metade dos locais em 2100.

Assim, o aumento relativo do nível do mar contribui para aumentar a frequência e a gravidade das inundações costeiras em áreas baixas e para a erosão costeira na maioria das costas arenosas.

A urbanização também aumenta as chuvas fortes sobre as cidades e, em cidades costeiras, a combinação de uma maior frequência de eventos extremos com eventos intensos de chuva tornarão as inundações cada vez mais prováveis e frequentes.

Impacto no continente africano

A frequência e intensidade das chuvas fortes poderá aumentar na maior parte do continente africano, com o aquecimento global adicional, adianta ainda o documento. As temperaturas médias e os extremos quentes ultrapassaram a variabilidade natural em relação ao período 1850-1900, em todas as regiões terrestres de África.

A taxa de aumento da temperatura superficial tem sido geralmente mais rápida em África do que a média global, sendo as alterações climáticas induzidas pelo homem o fator dominante.

O nível do mar relativo subiu a um ritmo mais rápido do que a média global do nível do mar em África nas últimas três décadas e é provável que a subida relativa do nível do mar continue em África, contribuindo para a erosão costeira e ao longo da maioria das costas arenosas.

No novo relatório, que saiu com um atraso de meses devido à pandemia, o IPCC considera cinco cenários, dependendo do nível de emissões que se alcance. Os cientistas constatam ainda que os efeitos do aquecimento global vão perdurar "séculos ou milénios" e resultam "inequivocamente" de responsabilidade humana.

O relatório, focado na vertente científica das mudanças climáticas, será complementado em 2022 por dois outros estudos, realizados por grupos de trabalho do IPCC, um centrado na adaptação das sociedades e outro nas medidas de mitigação. Os três servirão o sexto relatório do IPCC, previsto para a segunda metade de 2022.

O estudo, elaborado por 234 autores de 66 países, foi o primeiro a ser revisto e aprovado por videoconferência.

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