Filósofo, ensaísta e professor universitário, é um dos grandes pensadores do país e inaugura os ensaios do Expresso para o verão de 2021
A pandemia trouxe uma perturbação precisa às relações sociais: modificou consideravelmente a figura do “outro” com que sempre lidámos. Desde logo, tornando-a a maior ameaça à relação de socialização. Ora, “outros” somos todos nós, uns para os outros, e o bom laço social mede-se pelo grau de aceitação das diferenças, em múltiplos planos, entre gerações, sexos, etnias, culturas, estatutos e dons naturais. De tal maneira que até o regime político se pode definir pelo modo como produz e trata os “outros”, os integra ou os exclui, os valoriza ou menospreza. Assim, a igualdade na diferença deve funcionar como princípio, em toda a democracia.
O outro não é apenas o resultado de uma atitude e de um comportamento. Estes inserem-se em mecanismos mais vastos que convocam forças e dispositivos. Os diversos outros, construídos pela xenofobia, pelo antissemitismo ou pela homofobia, são fabricados por instituições, discursos, normas e práticas. Estes sistemas e agentes entram em combinações para formar máquinas de produção do outro (que são também máquinas de formação do eu, porque sou um outro para o outro eu). São, pois, verdadeiras máquinas que conectam certos elementos discursivos com certas leis e certas ações, forjando e pondo em movimento um “outro” determinado, o “negro”, o “judeu” ou a “mulher inferior”.
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