Sociedade

Caso Joe Berardo faz onze arguidos

Caso Joe Berardo faz onze arguidos
ANTÓNIO COTRIM

São onze os suspeitos formais no caso que investiga os negócios do empresário madeirense. Trata-se de seis arguidos coletivos e cinco individuais. Não há mais detidos, para além de Joe Berardo e André Luiz Gomes

Caso Joe Berardo faz onze arguidos

Hugo Franco

Jornalista

A investigação realizada pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária e pelo Departamento Central de investigação e Ação Penal (DCIAP) ao universo de Joe Berardo fez no total onze arguidos. Trata-se de seis em nome coletivo e cinco individuais, entre eles o empresário madeirense e o seu advogado André Luiz Gomes (ambos detidos) e também Carlos Santos Ferreira, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos e do BCP.

A notícia foi avançada pelo "Jornal de Notícias" e confirmada pelo Expresso por fonte próxima da investigação.

Aquele diário garante que pelo menos uma das associações controladas por Joe Berardo estará no lote das pessoas coletivas constituídas arguidas. Já o "Observador" avança que Renato Berardo foi constituído arguido em regime de co-autoria com o pai.

Berardo e André Luiz Gomes ficaram detidos esta noite no estabelecimento prisional anexo à Polícia Judiciária e estão a ser ouvidos esta quarta-feira perante o juiz de instrução Carlos Alexandre no primeiro interrogatório judicial a ser realizado no Tribunal Central de Instrução Criminal. Serão então conhecidas as medidas de coação a que serão sujeitos.

Esta terça-feira, o DCIAP e a UNCC da PJ fizeram meia centena de buscas, entre as quais a três a estabelecimentos bancários e uma a escritório de advogado. Estas diligências decorreram em vários locais do país, nomeadamente em Lisboa, no Funchal e em Sesimbra.

No inquérito investigam-se "matérias relacionadas com financiamentos concedidos pela CGD e outros factos conexos", estando em causa a prática de crimes de administração danosa, burla qualificada, fraude fiscal qualificada, branqueamento e eventualmente crimes cometidos no exercício de funções públicas. São crimes com uma moldura penal entre 5 e 12 anos de prisão.

De acordo com a PJ, a investigação, iniciada em 2016, identificou procedimentos internos em processos de concessão, reestruturação, acompanhamento e recuperação de crédito contrários às boas práticas bancárias e que podem configurar a prática de crime.

A operação da PJ incidiu sobretudo num grupo económico que entre 2006 e 2009 contratou quatro operações de financiamentos com a CGD, no valor de cerca de 439 milhões de Euros.

Este grupo económico tem incumprido com os contratos e recorrido aos mecanismos de renegociação e reestruturação de dívida para não a amortizar. A prestação na comissão parlamentar de inquérito à CGD, em 2019, foi vista como um ponto de não retorno na relação entre Berardo e os três principais bancos do país - aqueles com que tinha negócios: além do banco público, o BCP e o Novo Banco.

Na altura ficou a saber-se que tinha havido um misterioso aumento de capital na Associação Berardo, que tirava força aos bancos e dificultava que estes conseguissem ter acesso à coleção de arte, que permitiria serem parcialmente ressarcidos. E, a partir daí, choveram processos de execução para concretizar o ressarcimento. Além disso, seguiu a investigação judicial.

Atualmente este grupo económico causou um prejuízo de quase mil milhões de Euros à CGD, ao NB e ao BCP, "tendo sido identificados atos passiveis de responsabilidade criminal e de dissipação de património", segundo o comunicado da PJ. Nenhum dos bancos fez comentários quando contactados pelo Expresso. Além de cliente deste banco, Berardo foi um dos acionistas do BCP (aliás, o financiamento junto da CGD foi conseguido sobretudo para ganhar poder na guerra acionista de 2007), sendo que André Luiz Gomes foi igualmente administrador desta instituição financeira.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt

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