Sociedade

Polícias do Movimento Zero voltam a gritar em frente ao Parlamento: “Cabrita para a rua”

Polícias do Movimento Zero voltam a gritar em frente ao Parlamento: “Cabrita para a rua”
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

A manifestação do Movimento Zero já dura há mais de nove horas. Os protestos começaram no Parlamento com alguns momentos de tensão com as forças de segurança que fazem a segurança da Assembleia da República. Os protestos seguiram para o Ministério da Administração Interna e Marquês de Pombal, e voltaram ao parlamento

Em atualização

Passavam vinte minutos das cinco da tarde quando o grupo de largas centenas de manifestantes do Movimento Zero chegou defronte do Ministério da Administração Interna. No local encontravam-se dezenas de polícias e equipas do Corpo de Intervenção. O Ministério estava protegido por grades. Ao contrário do esperado, os manifestantes não se concentraram em frente a esse gradeamento, permanecendo juntos no centro do Terreiro do Paço.

Depois de terem ficado cerca de dez minutos no Terreiro do Paço os manifestantes continuaram o percurso pela baixa e sobem na Avenida da Liberdade em direção ao Marquês de Pombal, obrigando ao corte do trânsito pelas artérias onde decorre o protesto.

O Movimento Zero começou o protesto ao fim da manhã, em frente à Assembleia da República, no dia em que passam 32 anos de uma outra manifestação que opôs polícias contra polícias no Terreiro do Paço que ficou conhecida como “secos e molhados”. Foi a única vez que a PSP usou canhões da água, e naquele dia contra agentes da PSP que se manifestavam. Desta vez, não existe de perto a tensão desse dia. Estão na rua algumas centenas de polícias, muitos deles envergando a T-shirt preta do M0, movimento inorgânico que não tem dirigentes nem liderança, pelo menos formal.

O Movimento reivindica a subida de salários e a atribuição de subsídio de risco para todos os polícias, entre outros direitos que garantem estarem a ser desrespeitados pelo Ministério da Administração Interna. “Não somos um gasto supérfluo”, pode ler-se num cartaz preso às grades que separam os polícias em protesto dos que estão a trabalhar de uniforme e se encontram nas escadarias do Parlamento.

Foi impossível falar com alguém que represente o M0, precisamente devido às suas características inorgânicas, mas Correia Gomes, agente da PSP há 9 anos, predispôs-se a falar “no papel de apoiante”. “O Governo tem de nos ouvir. Há medidas urgentes que têm de ser implementadas, como a atribuição do subsídio de risco às forças de segurança.” Um discurso semelhante ao de outros polícias que se encontram em frente à Assembleia da República. Interrogado se o M0 tem ligações à extrema-direita e se isso pode de alguma forma descredibilizar o movimento, Pedro do Carmo, também agente da PSP, responde: “Não sei se há ligações à extrema-direita, mas parece que tudo o que é fora do normal é de extrema-direita.”

Quem se aproveitou do protesto foi um pequeno grupo de negacionistas, que critica em alta voz o uso de máscaras por parte da população. E acusa os jornalistas presentes de “compactuarem com um crime”.

Por um palco montado pela organização passam algumas pessoas que não são polícias, mas dizem estar solidárias com o M0 e também um ex-agente da PSP. De vez em quando ouvem-se os manifestantes bradar em uníssono: “Zero! Zero!”. E também não faltam assobios dirigidos ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, ou a Catarina Martins, do Bloco de Esquerda.

A manifestação do M0 foi organizada pelo movimento Defender Portugal, considerado pelas autoridades como negacionista e de extrema-direita. O porta-voz deste movimento, que nao é polícia, tem estado durante todo o dia na liderança dos protestos, tanto na rua como em frente ao parlamento. Ao microfone, apelou várias vezes à desobediência. E até falou aos jornalistas logo no início da manifestação, prometendo um “endurecimento dos protestos na rua, com ações mais assertivas”.

Movimento distancia-se dos sindicatos

“O M0 não é racista, não é xenófobo, não é de extrema-direita. Há de haver um ou outro de extrema-direita, ou outro de extrema-esquerda. Isto não é um "white power", isto é Zero. Não nos colamos a partidos políticos”, diz um polícia que discursa no palco e diz dar a cara pelo Movimento Zero. Palavras que tiveram direito a fortes aplausos por parte dos manifestantes.

No meio dos protestos encontram-se alguns dirigentes de pequenos sindicatos da PSP que se quiseram aliar ao M0. Mas o movimento diz-se fora da esfera dos sindicatos e tem uma agenda própria.

Nuno Afonso, dirigente do Chega, também discursou. E apela a outros partidos para irem ali ao palco. “Isto é mais do que política. O ministro Eduardo Cabrita não vai chegar ao final do mês. O André Ventura lá dentro não se vai esquecer de vocês.” O pequeno discurso teve também direito a muitos aplausos.
Afinal a marcha em direção ao MAI que estava prevista para depois de almoço já não terá lugar.

Os manifestantes não informaram a autarquia lisboeta para realizar a manifestação em frente ao MAI. Ao Expresso, fonte do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP garante que o protesto não vai ser impedido, mas que vai avançar com uma participação para o Ministério Público, “como acontece em casos semelhantes”.

Depois de almoço, há um notório reforço do contingente policial na escadaria da Assembleia da República. Os manifestantes soltam tochas de fumo, carregam nos apitos e vestem em conjunto as fardas da PSP e da GNR por cima das T-shirts do M0. “Queremos dignidade, valorização”, “união”, vão gritando.

“Cabrita para a rua!”, é outra das máximas gritadas numa altura que em os manifestantes se dirigiram em conjunto para a zona mais próxima das grades que os separam do Parlamento.

Os manifestantes já receberam dois alertas por parte do contingente policial para respeitarem o perímetro. Muitos deles estão pendurados no gradeamento que os separa do Parlamento. “Já está na hora do Cabrita ir embora”, gritam em uníssono. Ou “virem-se”, dirigidos aos polícias da escadaria. Está mais de uma centena de operacionais da PSP a proteger a escadaria do Parlamento.

Um pouco antes das 15h30, e sem algo que o indiciasse, as largas centenas de manifestantes saíram em massa de frente da AR e deslocaram-se, gritando palavras de ordem, para a av D. Carlos. Enquanto desciam a avenida gritavam: “Cabrita pede a demissão.” O trânsito ficou um caos nas imediações.

Quando os manifestantes chegaram ao final da D. Carlos, inverteram a marcha já perto do rio e voltaram a subir a avenida em direção ao Parlamento, confundindo as carrinhas da Unidade Especial de Polícia que acompanhavam os protestos. Já junto à Assembleia da República, a PSP foi obrigada a fazer um cordão de segurança para impedir a subida de alguns manifestantes.

Depois de momentos muito tensos na lateral esquerda da Assembleia da República, em que a PSP foi obrigada a refazer o cordão policial, rompido por largas dezenas de manifestantes, às 16h os ânimos voltaram a acalmar. Nesta altura, a manifestação voltou ao ponto inicial, em frente da Assembleia da República.

Às 16h30, a organização avisa pelo microfone que a manifestação vai para o Ministério da Administração Interna. Os polícias do M0, que até já estavam sentados no asfalto, levantam-se e voltam a descer a av. D. Carlos I.

Ao fim de duas horas e meia de caminhada pelo centro de Lisboa, e sem qualquer impedimento por parte da PSP, os manifestantes regressaram ao Parlamento, tendo obrigado ao corte do trânsito durante o percurso. Eram já 19h00. O percurso foi feito sem momentos de tensão e sem percalços com as forças de segurança que faziam segurança do perímetro.

Às 20h00, os manifestantes vestiram de novo os uniformes da PSP e GNR, em frente à AR, tal como tinham feito há algumas horas. E voltaram a juntar-se às baias de segurança que protegem as escadarias do parlamento. “Cabrita para a rua”, gritam com insistência.

Texto atualizado às 20h29

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