Pandemia fez disparar hospitalização em casa: números continuam a crescer este ano
RUI DUARTE SILVA
Dos 10.219 doentes tratados desde 2018 em hospitalização domiciliária, 4876 foram-no no ano passado. O diretor nacional de Hospitalização Domiciliária garante que a pandemia foi a grande impulsionadora deste tipo de hospitalização, que existe no país desde 2018
Entre janeiro e abril de 2021, já houve 2019 doentes tratados em casa pelo modelo de Hospitalização Domiciliária, quase mais 500 do que no mesmo período do ano passado (1529).
A pandemia tem sido impulsionadora deste tipo de internamento, garante Delfim Rodrigues, diretor do Programa Nacional de Hospitalização Domiciliária, tornado letra de lei em 2018. No mesmo ano, associou-se o Centro Hospitalar de Gaia/Espinho, no Norte. Mas já em 2015 tinha surgido o primeiro serviço no país, no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
E se o início foi a conta-gotas, hoje em dia, diz o JN, há 34 hospitais associados ao modelo, surgido pela primeira vez nos Estados Unidos após a II Guerra Mundial. Só em quatro unidades elegíveis é que não se faz hospitalização domiciliária: o Centro Hospitalar de Trás-Os Montes e Alto Douro, o Hospital de Braga, o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo.
Metade dos custos
Os doentes são primeiramente encaminhados pelos médicos dos serviços dos hospitais para que passem numa fina análise de critérios, porque nem todos têm condições para serem internados em casa. O domicílio tem de assegurar condições de higiene e tem de estar localizado até 30 minutos do hospital, tem de haver um telefone disponível e, em caso de o doente ser dependente, terá de haver um cuidador disponível. Do ponto de vista da doença, tem de ser garantida a estabilidade clínica.
Segundo Vitória Cunha, coordenadora da Unidade de Hospitalização Domiciliária do Hospital Garcia de Orta, "os custos diretos de tratamento de doentes em hospitalização domiciliária são cerca de 30% a 40% inferiores aos do internamento convencional".
Dos 10.219 doentes tratados desde o início oficial do modelo no país, 4876 foram-no no ano passado e estes "equivalem a uma eficiência em termos de custos diretos de 45,47%", face ao internamento hospitalar, revela Delfim Rodrigues. "Foram tratados com 7336 milhões de euros, quando o equivalente num hospital seria muito perto dos 14 milhões".
Mas vão muito para além das económicas as vantagens do “maior hospital do mundo”, como lhe chama Daniela Mendes, médica especialista em Medicina Interna da equipa do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho.
“É uma medicina muito mais personalizada do que a praticada na enfermaria do hospital, em que a nossa atenção está sempre mais dividida”, reflete. “É muito diferente dizer a um doente que não pode comer isto ou aquilo ou pedir licença para abrir o frigorífico e dizer que os iogurtes que lá tem dizem zero mas não são zero”, completa Olga Gonçalves, a médica coordenadora. “O gratificante da hospitalização em casa também é os familiares verem ao vivo e a cores as indicações e sentirem-se envolvidos no processo”.