
Investigadores portugueses estão apostados em ajudar bactérias a produzir biogás a partir de dejetos animais
Investigadores portugueses estão apostados em ajudar bactérias a produzir biogás a partir de dejetos animais
O que para a maioria das pessoas é cocó de galinha, para investigadoras como Ana d’Espiney pode ser substrato. O que significa que pode ser simultaneamente fonte de energia e valer dinheiro. Nos próximos três anos, a investigadora deverá concluir uma tese de doutoramento entre Instituto Superior Técnico, Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia (LNEG) e o Centro de Investigação de Biomassa Alemão, com vista a desenvolver uma proposta técnica para a região de Lafões que promete elevar o aproveitamento de detritos produzidos por aviários, currais, estábulos ou florestas para um novo nível de produtividade de energia.
“Nos testes em que usámos também detritos de pinhais, conseguimos produzir três vezes mais biogás (que nos processos só com dejetos de animais). Além disso, o biogás que produzimos nesses testes tem maior concentração de metano”, explica a investigadora.
O aproveitamento de efluentes de unidades pecuárias começou a ganhar forma em Portugal na década de 1980. O conceito chegou com a boleia de três atrativos: além de poupar custos de tratamento de detritos e dejetos, permite produzir líquidos e sólidos fertilizantes e o já referido biogás. Para isso, dejetos e detritos são colocados em reatores sem oxigénio para que as bactérias archeae possam fazer o seu trabalho de “digestão”. Na Alemanha, não faltam complexos agrícolas e industriais que tiram partido não só dos fertilizantes como dos derivados do biogás para climatização e cogeração — mas, em Portugal, esse aproveitamento tem estado em declínio, apesar dos estudos que referem que 10% a 13% das necessidades energéticas podem ser satisfeitas com biogás.
“O biogás também pode ser usado na rede de gás natural, desde que tenha uma concentração de metano superior a 95%”, recorda Isabel Marques, investigadora do LNEG e orientadora de doutoramento de Ana d’Espiney.
Com o estudo da região de Lafões há expectativa de dar novo impulso à digestão anaeróbia. Os mesmos testes promissores quanto ao uso de detritos de pinhais revelaram resultados menos animadores com eucaliptos — mas as dúvidas deverão ser tiradas nos próximos tempos por Ana d’Espiney com elaboração de diferentes “receitas” para consumo das archeae que permitem ter em conta as várias explorações agrícolas e pecuárias da região de Lafões. Precisamente para alertar para esta oportunidade de negócio, o tema vai estar em debate nas Jornadas da Bioenergia e dos Biorresíduos, sexta-feira, em Vouzela.
“A produção de biogás é também uma forma de diminuir a dependência energética. O biogás é armazenado em contentores e, ao contrário de outras energias renováveis, não depende do sol ou do vento para ser produzido”, conclui Isabel Marques.
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