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Ecoansiedade: “É um pensamento meio doido, não é? Que o meu filho de quatro anos não vai ter o mesmo mundo que eu tive”

Ecoansiedade: “É um pensamento meio doido, não é? Que o meu filho de quatro anos não vai ter o mesmo mundo que eu tive”
TOLGA AKMEN/GETTY IMAGES

Não é considerada uma doença, mas implica tanto “sofrimento psicológico” quanto outros problemas de saúde mental. A ecoansiedade afeta “cada vez mais jovens”, que se sentem responsáveis por resolver o problema e, às vezes, culpados, sem esperança. “Deixam de estudar e estar envolvidos em projetos porque acham que isto vai, inexoravelmente, acabar na destruição.” Numa das linhas da frente do combate às alterações climáticas estão os ativistas pelo clima, “que acham que têm de fazer alguma coisa e por isso sofrem mais”. “Carregam a ansiedade de todos os outros”, são os “emissários da ansiedade e têm de ser ajudados, porque estão numa posição muito difícil”

Ecoansiedade: “É um pensamento meio doido, não é? Que o meu filho de quatro anos não vai ter o mesmo mundo que eu tive”

Helena Bento

Jornalista

A postura descontraída e a voz baixa e pausada contrastam com o que diz: “Estamos a assistir ao colapso do mundo. O colapso está ao virar da esquina e nós estamos aqui na esplanada. O mais estranho até é isso. É estarmos perante uma coisa com uma capacidade destrutiva tão grande e, mesmo assim, estarmos aqui a tomar café”. Não é que se deva abdicar do prazer e das tréguas, até porque “ninguém vai jogar lesionado”, tendo escolhido não cuidar de si próprio, mas as coisas são como são: “A capacidade deste sistema de nos ocultar coisas é tão grande que conseguimos estar perante o maior perigo que a humanidade já enfrentou e seguir com a nossa vida como se nada se passasse”.

O perigo a que Gil Ubaldo se refere são as alterações climáticas. Tem 21 anos e faz parte do coletivo Greve Climática Estudantil, que tem organizado greves, manifestações e outras ações e iniciativas em nome da justiça climática. Como ele, centenas de jovens apresentam sinais daquilo a que psicólogos e outros profissionais da área da saúde mental chamam “ecoansiedade”, ou ansiedade provocada pelas alterações climáticas (o tema será abordado no Festival Mental, numa conversa que terá lugar no São Jorge, em Lisboa, na próxima sexta-feira, 21 de maio). O conceito não é novo mas o termo é recente, tendo surgido num relatório publicado em 2017 pela Associação Americana de Psicologia. Foi definido como um “medo crónico de sofrer um cataclismo ambiental” que ocorre ao “observar os impactos lentos e aparentemente irrevogáveis das mudanças climáticas, gerando uma preocupação sobre o próprio futuro e das gerações vindouras”. Várias das pessoas que sofrem dessa ansiedade, refere ainda a associação, “são profundamente afetadas por sentimentos de perda, impotência e frustração devido à sua incapacidade de sentir que fazem a diferença ao travar as alterações climáticas”.

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