7 maio 2021 11:59

Os trabalhadores das estufas recebem cerca de €3 por hora
nuno botelho
A exploração de milhares de imigrantes na agricultura é nacional, ativada em diferentes regiões ao ritmo das colheitas. Recrutadores prendem-nos com dívidas sobrepostas, contratos pagos e a promessa de legalização. Donos das herdades e dos alojamentos colocam-se à margem do crime
7 maio 2021 11:59
O cerco sanitário às freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, em Odemira, tirou da clandestinidade a exploração de mão de obra imigrante nas grandes propriedades agrícolas do Alentejo, mas o fenómeno não é novo nem localizado — há vários anos que nepaleses, indianos e moldavos se espalham aos milhares por todo o país rural ao ritmo da época das colheitas da azeitona, fruta, castanha, tomate, melão e até da sazonalidade da limpeza dos terrenos agrícolas. A uni-los e a guiá-los há redes de recrutadores, muitos seus compatriotas, que os controlam com dívidas e promessas de legalização.
Orlando Ribeiro, coordenador da Unidade Antitráfico de Pessoas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), conhece cada um dos 32 inquéritos que correm em diversas comarcas do Alentejo, onde há suspeitas de abusos dos direitos humanos, além de auxílio à imigração ilegal e angariação de mão de obra ilegal. No terreno está também a PJ. Desde 2018, foram sinalizadas 134 vítimas de tráfico de pessoas para exploração laboral, e pelo cruzamento das suas histórias é possível traçar o modus operandi desta escravatura do mundo rural.