Depois de afastada do Censos 2021, questão polémica e inédita em Portugal sobre a pertença a uma categoria étnico-racial fará parte da pesquisa de testagem
O INE avançará no quarto trimestre com um projeto intitulado “Inquérito às Condições, Origens e Trajetórias da População Residente” (ICOT), que vai incluir, pela primeira vez em Portugal, uma questão sobre categorias étnico-raciais. Depois da polémica com a rejeição desta pergunta no Censos, a entidade responsável pelas estatísticas nacionais decidiu colocar esta questão aos residentes.
A testagem do projeto-piloto será feita com a população residente na Área Metropolitana de Lisboa, com idades entre 18 e 74 anos. O INE explica que este inquérito visa testar os conteúdos e a adesão dos entrevistados às temáticas. A recolha deverá ser mista de forma a atender ao que o INE considera ser a ”diversidade de perfis dos respondentes”, que poderão optar pela forma como preferem responder, embora o INE alerte que “no atual contexto dever-se-ão privilegiar métodos de recolha não presenciais, por telefone ou via web”. Tudo vai depender da evolução da pandemia.
A resposta à pergunta sobre “a pertença do ponto de vista étnico” resultará da autoclassificação dos inquiridos e a origem será observada pela naturalidade de quem responde e dos seus ascendentes, “até à terceira geração”. Assumindo ainda que os termos utilizados (negro, branco, asiático ou cigano) recuperam aqueles que tinham sido utilizados na proposta de pergunta que o INE não aceitou incluir nos Censos.
“O objetivo central é melhorar o conhecimento sobre a diversidade da população portuguesa com enfoque na sua pertença/identificação étnica, trajetórias geracionais, das condições de vida objetivas”, afirma o INE, que, pela primeira vez colocará questões sobre discriminação étnico-racial, recolhendo informação junto da população imigrante e dos seus descendentes sobre “o acesso e a qualidade do emprego, saúde, educação, habitação, mobilidade, redes de socialização”.
O instituto reconhece os riscos da operação: “Trata-se de matérias sobre as quais não existe experiência prévia de observação nas estatísticas oficiais em Portugal, o que implica a construção, em diálogo com entidades externas com experiência nestas matérias, de um questionário com perguntas que não são de recolha habitual nos inquéritos às famílias realizados pelo INE.” E assume que a complexidade do inquérito deve-se “sobretudo ao número elevado de perguntas a incluir, nomeadamente respeitantes a assuntos que podem revestir delicadeza e alguma resistência natural à resposta”.
A avaliação do projeto-piloto vai ajudar a preparar o inquérito principal, que será complementado com perguntas sobre conjugalidade, relação com o mercado de trabalho (inatividade/desemprego), condições habitacionais (acesso à internet e condições de conforto), mobilidade casa-trabalho/escola e rendimento e mobilidade social.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CAMartins@expresso.impresa.pt