Cláudia viveu até aos 18 anos sem saber o que era a fibrose quística: “Nunca tinha ouvido falar, não sabia nada sobre a doença.” Receber com essa idade o diagnóstico foi, por isso, uma surpresa para a qual não estava preparada. “Desde criança tinha muita tosse, mas os médicos nunca valorizaram. Limitava-me a tomar os xaropes e remédios habituais para as constipações”, conta.
Por ter chegado à idade adulta sem nenhuma complicação, não lhe parecia sequer possível ter uma doença tão grave como a que ouviu descrever. Quando, já depois de encaminhada por uma alergologista, passou a ser acompanhada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, perguntava muitas vezes à médica “se ela não estaria enganada”. As crises respiratórias e os internamentos somados com o passar dos anos haveriam de lhe apagar qualquer restea de dúvida.
Não que Cláudia, aos 43 anos, se considere uma doente ‘típica’. Casos como o de Constança Bradell, a jovem que partilhou nas redes sociais o desespero perante o agravamento da sua situação clínica, lembram-na como a doença pode ser terrível. “Tenho limitações, que aprendi a respeitar, mas consigo fazer uma vida normal. Apesar das crises e das várias passagens pelo hospital, não houve deterioração dos pulmões”, sublinha, para lembrar que, “para a maior parte dos doentes, a realidade é outra”.
Em tempo de pandemia, aproveita para deixar um desabafo relativamente à vacinação para a covid-19. “Não entendo como só podem estar incluídos nos grupos prioritários os doentes com fibrose quística que tenham mais de 50 anos. Que sentido faz quando estamos a falar de uma doença em que a esperança média de vida são os 40?”
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