Exclusivo

Sociedade

Fibrose quística. Doentes têm esperança média de vida de 40 anos, mas prioridade na vacinação covid só chega aos 50. “Que sentido faz?”

Fibrose quística. Doentes têm esperança média de vida de 40 anos, mas prioridade na vacinação covid só chega aos 50. “Que sentido faz?”
ANGELO CARCONI/EPA

A fibrose quística é uma doença genética sem cura, mas cuja esperança média de vida passou dos 10 para os 40 anos desde 1960. O caso de Constança Bradell trouxe-a para a atualidade, embora as associações que representam os doentes há muito insistam na necessidade de o Infarmed aprovar o medicamento inovador a que a jovem vai ter acesso e cuja grande eficácia tem vindo a ser comprovada. Incluir no grupo prioritário para vacinação contra a covid-19 todos os doentes com mais de 16 anos é outro dos apelos

Fibrose quística. Doentes têm esperança média de vida de 40 anos, mas prioridade na vacinação covid só chega aos 50. “Que sentido faz?”

Mafalda Ganhão

Jornalista

Cláudia viveu até aos 18 anos sem saber o que era a fibrose quística: “Nunca tinha ouvido falar, não sabia nada sobre a doença.” Receber com essa idade o diagnóstico foi, por isso, uma surpresa para a qual não estava preparada. “Desde criança tinha muita tosse, mas os médicos nunca valorizaram. Limitava-me a tomar os xaropes e remédios habituais para as constipações”, conta.

Por ter chegado à idade adulta sem nenhuma complicação, não lhe parecia sequer possível ter uma doença tão grave como a que ouviu descrever. Quando, já depois de encaminhada por uma alergologista, passou a ser acompanhada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, perguntava muitas vezes à médica “se ela não estaria enganada”. As crises respiratórias e os internamentos somados com o passar dos anos haveriam de lhe apagar qualquer restea de dúvida.

Não que Cláudia, aos 43 anos, se considere uma doente ‘típica’. Casos como o de Constança Bradell, a jovem que partilhou nas redes sociais o desespero perante o agravamento da sua situação clínica, lembram-na como a doença pode ser terrível. “Tenho limitações, que aprendi a respeitar, mas consigo fazer uma vida normal. Apesar das crises e das várias passagens pelo hospital, não houve deterioração dos pulmões”, sublinha, para lembrar que, “para a maior parte dos doentes, a realidade é outra”.

Em tempo de pandemia, aproveita para deixar um desabafo relativamente à vacinação para a covid-19. “Não entendo como só podem estar incluídos nos grupos prioritários os doentes com fibrose quística que tenham mais de 50 anos. Que sentido faz quando estamos a falar de uma doença em que a esperança média de vida são os 40?”

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MGanhao@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate