O médico psiquiatra Luís Patrício, ex-diretor do Centro de recuperação das Taipas, em Lisboa, autor do projeto pedagógico 'Mala da Prevenção' e um dos maiores especialistas sobre consumos de droga em Portugal, garante que o confinamento causado pela pandemia da covid-19, levou a uma degradação de comportamentos de pessoas já com problemas de substâncias psicoativas legais e ilegais.
Qual foi a droga cujo consumo mais cresceu durante a pandemia?
A informação que tenho é dos doentes e seus familiares e de colegas com quem partilho conhecimentos. A substância legal cujo consumo aumentou muito no âmbito doméstico, no domicílio, foi o álcool. É muito grande a facilidade de aquisição e a preço muito acessível. E culturalmente está integrado embora continue enorme a ignorância sobre o consumo. Muitas pessoas não sabem beber e nem aproveitam o que de prazer se pode obter. Nunca foram ensinadas a saber apreciar. Muitos bebem para se integrar ou para aliviar desprazer. E em tempo de crise tudo piora: é a substância com mais acessibilidade.
Muitos de nós, ficando fechados em casa, passamos a beber em casa como antes não acontecia: antes da refeição, durante, depois, a meio da tarde, antes de jantar ao jantar e ao serão… Tudo de forma inocente mas nada decente para a saúde.
A substância ilegal que se manteve como mais consumida e mais por quem mais pode financeiramente, foi a cocaína. Em Lisboa, por exemplo, a entrega ao domicílio facultou a esses consumidores o consumo doméstico. E associado ao álcool tudo piora: consome-se muito mais das duas substâncias. Nos meios de consumos mais marginalizados sempre se consumiu 'coca' cozida, crack e heroína. Nota-se bem este comportamento em doentes que não estão em tratamento ou que estejam insuficientemente medicados, e ou que não têm consultas com um médico. A canábis teve dificuldade de entregas. A erva em certos locais chegou a dobrar o preço, mas já normalizou. E a resina, o haxixe também.
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