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6% das portuguesas já foram vítimas de agressão física ou sexual. E ainda assim percentagem fica abaixo da média europeia

6% das portuguesas já foram vítimas de agressão física ou sexual. E ainda assim percentagem fica abaixo da média europeia
Getty Images

Nascem mais homens que mulheres, mas elas vivem mais e em Portugal - e em quase toda a Europa - há mais pessoas do género feminino do que masculino. E embora o nível de escolaridade das mulheres seja superior, no final do mês ganham menos e trabalharam mais. Quando se assinala o Dia Internacional da Mulher, a Pordata compilou um conjunto de indicadores que retratam a situação da mulher, em Portugal e na União Europeia

6% das portuguesas já foram vítimas de agressão física ou sexual. E ainda assim percentagem fica abaixo da média europeia

Marta Gonçalves

Coordenadora de Multimédia

Lúcia foi baleada. Tal como Ana Maria e Sónia. Vera foi espancada. Tal como carla ou Ester. Ana Paula foi estrangulada. Camila, Abertina e Marina morreram esfaqueadas. Todos estes nomes são de vítimas de violência doméstica. Todas foram mortas. Há também a história de uma família em que praticamente todas as mulheres foram vítimas de abuso - 331, praticados por três homens. E a pandemia, já admitiu a Ministra da Justiça, criou condições para o aumento dos casos de violência doméstica, de abusos sexuais. Só parte das histórias chega aos jornais e até aos tribunais. Estes são alguns exemplos reais de quem já foi vítima de agressão física ou sexual.

De acordo com o Eurostat e a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, em 2012 cerca de 330 mil mulheres passaram por agressões (considerando que a população feminina nesse ano era de 5.515.578). Este é um dos dados divulgado pela Pordata esta segunda-feira em que se assinala o dia internacional da mulher.

Ainda assim, os 6% estão abaixo da média da União Europeia, que se fixa nos 8%. No entanto, se olhar para cada estado-membro, em países Bélgica, Dinamarca, França, Países Baixos e Suécia chegam aos 11%. No polo oposto, com 3% está a Eslovénia.

“Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, é a Igualdade de Género e é precisamente este o mote para a seleção de um conjunto de destaques estatísticos que mostram as diferenças entre homens e mulheres em diversas áreas da sociedade tais como a população, a educação e o trabalho”, refere a Pordata no relatório enviado às redações.

Nascem mais homens mas as mulheres vivem mais

Em Portugal por cada 100 bebés do género feminino, nascem 106 do género masculino (os dados são do INE e referentes a 2019). No entanto, à medida que se avança na idade, a superioridade do número de mulheres aumenta. “Há mais mulheres que homens a partir do grupo etário dos 25 aos 29 anos. No total, por cada 100 mulheres existem 89 homens”, pode ler-se no relatório.

Ambos os géneros têm beneficiado com o aumento da qualidade de vida, que se traduz numa média de anos vividos superior quer no momento da nascença quer quando atingem os 65. “Entre 1970 e 2018, os ganhos foram de cerca de 15 anos à nascença e de 6 a 7 anos aos 65 anos. Quer à nascença, quer aos 65 anos, a esperança de vida é maior nas mulheres (à nascença a diferença é de 6 anos e aos 65 anos é de 4 anos).”

Na Europa, elas também são mais e vivem mais. Só na Eslovénia, Luxemburgo, Malta e Suécia é que os homens representam a maior fatia da população.

Maior escolaridade mas menor emprego

A questão da escolaridade ainda deixa Portugal “ficar mal na fotografia: Portugal é o país com menor percentagem de homens com pelo menos o ensino secundário e, no caso das mulheres, apenas Malta apresenta um valor mais baixo”. Mesmo assim, nos últimos anos, há mais mulheres a concluírem o ensino secundário do que homens e a diferença entre géneros neste indicador tem-se acentuado. “Em 2019, esse valor sobe para 56,1% entre as mulheres e para 47% entre os homens”, pode ler-se.

As mulheres também se tornaram a maioria no que toca à formação superior e avançada: no ano passado matricularam-se nas universidades 214.731 mulheres e 182.178 homens. Também no final são mais elas que concluem o ciclo de estudos do que eles: representam cerca de 58% dos diplomados em 2019.

Apesar da maior formação, isto não se traduz necessariamente em melhores condições de emprego. Pelo contrário: nesta categoria eles estão sempre acima. “A taxa de emprego dos homens tem sido superior à das mulheres, embora a diferença entre sexos tenha registado uma redução até 2012, ano a partir do qual se fixou em torno dos 7 pontos percentuais. Nos últimos 5 anos, Portugal está entre os 14 países da UE27 que viram aumentar esta diferença na taxa de emprego entre homens e mulheres.”

Cerca de 1 ⁄ 4 das mulheres portuguesas inativas em Portugal em 2019 estavam nesta situação devido a “responsabilidades familiares”, uma razão que no início do século era invocada por quase 40% dos casos. “Em contrapartida, esta justificação nunca superou os 4% entre os homens inativos.”

E há ainda profissões onde tipicamente mulher não entra: é o caso das polícias e dos docentes do ensino superior. No lado oposto, são tidos como empregos tipicamente femininos as educadoras do ensino pré-escolar e os docentes do básico e secundário.

Por fim, a maternidade. Hoje são cada vez mais os filhos que chegam antes do casamento (um contrato que muitas vezes nem acontece). Aliás, desde 2015, que os nascimentos de bebés de mulheres não casadas são a maioria. Ainda assim, em 2019, em mais de 2/3 (67,5%) destes casos, os pais coabitam. No entanto, a esmagadora maioria dos adultos que vive sozinho com crianças é mulher. Ou seja, nos agregados compostos apenas por um adulto, é quase sempre a mãe que está presente,

Ter filhos sem casar não é a norma na Europa: em 2018 entre os 24 países com dados disponíveis, apenas em oito a maioria das mulheres que foram mães não eram casadas. “França lidera esta realidade: seis em cada dez mães não são casadas. Em sentido oposto, na Grécia, apenas 1 em cada 10 mães não são casadas.”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mpgoncalves@expresso.impresa.pt

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