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Corrida a Marte. “É possível que algum ser se tenha adaptado às alterações climáticas marcianas e se mantenha vivo”

Corrida a Marte. “É possível que algum ser se tenha adaptado às alterações climáticas marcianas e se mantenha vivo”
Sebastian Kaulitzki/Science Phot / Getty Images

Quem o diz é o astrofísico Pedro Mota Machado, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e professor de Ciências da Universidade de Lisboa, num momento em que a corrida ao planeta vermelho — outrora visto como um “planeta morto” — está mais viva do que nunca, com a chegada, quase ao mesmo tempo, de três missões enviadas por outros tantos países

Que via verde é que se abriu para o planeta vermelho que fez com que estas três missões, de outros tantos países, cheguem a Marte ao mesmo tempo?
Faz muito sentido em termos científicos. Advém do facto de haver uma janela de oportunidade para os lançamentos, em termos de mecânica celeste das órbitas relativas entre Marte e a Terra. A cada 26 meses existe uma proximidade enorme entre os dois planetas. Foi o que aconteceu em julho do ano passado, num desses períodos, quando as missões foram lançadas. É por isso natural que cheguem mais ou menos ao mesmo tempo. Não é por se tratar de alguma data especial ou por ser Carnaval em Marte. [risos]

A proximidade em termos cósmicos é sempre muito relativa, porque mesmo com este 'atalho' a viagem dura sete meses...
Exatamente, mas pode ser ainda muito mais longa. Em termos de poupança de tempo, foi uma altura muito conveniente.

O que distingue estas três missões, de outros tantos países, que chegam a Marte ao mesmo tempo?
São bastante diferentes. Começo pela sonda Amal [“Esperança”, em português], enviada pelos Emirados Árabes Unidos, país ao qual deixo já os meus parabéns. É incrível terem conseguido esta proeza inaudita.

Chegar a Marte é, literalmente, um desafio de outro mundo para um país estreante?
É necessário um nível de tecnologia e uma agregação de conhecimento enormes para se conseguir com sucesso, à primeira, enviar uma sonda espacial para milhões de quilómetros de distância da Terra. É desde logo um feito pela inserção em órbita da Amal ter corrido bem, uma vez que obriga a uma desaceleração brutal, em que se passa em muito pouco tempo de uma velocidade superior a 120 mil km/h para aproximadamente 18 mil km/h. Essa é a travagem necessária para que a atração gravitacional de Marte seja eficiente para que haja uma entrada na órbita e para que a sonda permaneça estável em torno do planeta. Acho espantoso que o tenham conseguido logo na primeira tentativa.

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