
Quatro perguntas e respostas essenciais sobre as variantes da covid-19
Quatro perguntas e respostas essenciais sobre as variantes da covid-19
Jornalista
Desde a primeira descrição do genoma do SARS-CoV-2, logo no início de 2020, já foram publicadas milhares de sequências diferentes em todo o mundo. Mas as mudanças neste coronavírus, que ocorrem quando ele replica o seu próprio material genético durante o processo de infeção, têm sido quase sempre inconsequentes para o homem. Não é o caso da variantes do Reino Unido, África do Sul ou Brasil. Nestes casos, as alterações registadas na proteína de superfície do vírus (spike) — que permite a entrada nas células humanas — estão a conferir vantagens ao vírus.
No caso da variante do Reino Unido, já não há dúvidas de que é mais transmissível em comparação com as que estão em circulação há mais tempo, ainda que não esteja associada a doença mais grave ou taxa de letalidade superior. Já as variantes da África do Sul e do Brasil “apresentam uma mutação em específico (E484k) que foi anteriormente identificada como reduzindo a capacidade dos anticorpos de se ligarem à proteína spike”, explica Ricardo Leite, coordenador da Unidade de Genómica do Instituto Gulbenkian de Ciência. Na prática, isso significa que, em alguns casos, pode fazer diminuir a proteção que os anticorpos conferem na eventualidade de novo contacto com o vírus.
A variante do Reino Unido já foi encontrada em mais de 60 países, continua a espalhar-se e a ganhar prevalência em vários locais, como é o caso de Portugal. O Instituto Dr. Ricardo Jorge estima que, desde o início de dezembro, tenham sido registados a circular cerca de 30 mil casos com a variante agora designada B.1.1.7. E a tendência é para continuar a crescer muito nas próximas semanas. No entanto, indica o mesmo instituto, ainda não foi identificado nenhum caso relacionado com a variante do Brasil e da África do Sul. A primeira já foi encontrada naturalmente no país que lhe deu o nome, em Itália e no Japão. Em relação à segunda, sabe-se que circula já em vários países da Europa.
Para já, tudo indica que não. A Pfizer divulgou esta semana um estudo indicando eficácia total em relação à variante do Reino Unido. A partir de amostras de sangue de 16 participantes nos testes clínicos da vacina, metade deles acima dos 55 anos, a farmacêutica tentou perceber se os anticorpos daquelas pessoas já vacinadas neutralizavam um vírus que concentrava dez mutações da variante britânica. E assim aconteceu. As restantes farmacêuticas, como a Moderna, irão também apresentar os resultados dos seus testes. A virologista do Instituto Gulbenkian de Ciência, Maria João Amorim, lembra ainda que, “apesar de algumas mutações poderem interferir com a capacidade de ligação de um outro anticorpo específico, apenas a ligação desse anticorpo (e não a de todos os outros) será afetada”. Além disso, a resposta imunitária do ser humano tem outras armas além dos anticorpos neutralizantes.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ILeiria@expresso.impresa.pt