Sociedade

Universidade Nova confirma buscas. Bacelar Gouveia constituído arguido em processo de corrupção

Universidade Nova confirma buscas. Bacelar Gouveia constituído arguido em processo de corrupção

O constitucionalista é suspeito de facilitar a atribuição de doutoramentos a alunos de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa a troco de diamantes. Faculdade de Direito da Universidade Nova garante estar "totalmente disponível" para colaborar com as autoridades

Universidade Nova confirma buscas. Bacelar Gouveia constituído arguido em processo de corrupção

Liliana Coelho

Jornalista

Universidade Nova confirma buscas. Bacelar Gouveia constituído arguido em processo de corrupção

Filipe Garcia

Editor-adjunto de Política

A Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (Nova School of Law) confirma a realização de buscas no estabelecimento de Ensino Superior no âmbito do processo Tutti-Frutti, que envolve o constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia, e garante estar disponível para colaborar com as autoridades. Segundo avançou a SIC, o professor catedrático foi constituído arguido no processo que investiga uma alegada teia de corrupção e tráfico de influência.

"Nos últimos dois anos, algumas situações levantaram dúvidas sobre a conduta do professor Jorge Bacelar Gouveia. Em duas ocasiões, chegou, inclusivamente, a avançar com participações disciplinares por violação dos deveres de informação, de zelo, de lealdade e de correção. Contudo, jamais foi considerada a possibilidade de ter praticado atos suspeitos de constituir crime", afirma a direção da Faculdade de Direito da Nova em comunicado.

Foi com "surpresa" e "consternação" que o estabelecimento teve conhecimento das acusações de que o Bacelar Gouveia é alvo, manifestando-se "totalmente disponível para colaborar com as autoridades no apuramento da verdade" e tendo feito já uma nova participação disciplinar à Universidade Nova relativa ao docente.

"Trata-se de um constitucionalista de elevada notoriedade na sociedade portuguesa e no mundo lusófono em geral, também Presidente do Conselho Científico desta Faculdade e coordenador de ciclos de estudos não nucleares, além dos muitos cargos de responsabilidade que desempenhou e nalguns casos ainda desempenha fora desta instituição. São cargos que pressupõem a mais elevada idoneidade de quem os ocupa", acrescenta.

Em causa estará a intermediação de Bacelar Gouveia no processo de atribuição de doutoramentos a alunos de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP’s) a troco de contrapartidas. O antigo deputado social-democrata é suspeito de ajudar vários doutorandos a obter o diploma, recebendo em troca, por exemplo, diamantes.

O Expresso tentou contactar Bacelar Gouveia, mas sem sucesso. Em outubro, o professor catedrático garantia, contudo, em declarações à revista Sábado, ainda não ter sido ouvido pelo Ministério Público (MP) sobre estas suspeitas.

A investigação arrancou em 2017 depois de a Polícia Judiciária (PJ) ter tido acesso a conversas telefónicas entre Bacelar Gouveia e Sérgio Azevedo, também ex-deputado do PSD e seu aluno na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (FD-UNL). A alegada rede de crimes de corrupção, tráfico de influência e participação económica em negócio envolve membros e ex-membros do PS e do PSD.

Carlos Eduardo Reis, ex-conselheiro nacional do PSD, e Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, são os principais suspeitos desta rede. Em causa está a assinatura de contratos entre juntas de freguesia de Lisboa lideradas pelo PSD com empresas de membros do partido, que ascenderam a um milhão de euros, segundo o Observador.

Foi em outubro, que se soube que Bacelar Gouveia estava a ser investigado no âmbito da 'Operação Tutti-Frutti', quando era candidato a juiz do Supremo Tribunal de Justiça. Entretanto, o constitucionalista Gouveia renunciou no passado dia 3 de dezembro ao cargo de Presidente do Conselho Científico da FD-UNL, mas continua a presidir o Conselho Fiscal da Ordem dos Advogados.

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