Soumya Swaminathan, cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), não poupou na admiração que lhe provoca o desenvolvimento de uma vacina para a covid-19 em menos de um ano. A responsável da OMS lembrou esta sexta-feira, durante a Web Summit, que o desenvolvimento de vacinas com taxas de sucesso que superam as melhores expectativas de taxas de sucesso de 70% só foi possível devido aos investimentos feitos nos últimos anos, ao trabalho levado a cabo na sequenciação do genoma humano (que levou ao desenvolvimento de vacinas como a da Pfizer) e à partilha de informação entre diferentes empresas e países. Mas o bom exemplo da cooperação no combate contra a covid-19 continua a destoar do combate ao VIH ou até à tuberculose, que continua a matar meio milhão de pessoas anualmente, apenas porque as vacinas mais desenvolvidas não chegam aos países mais pobres.
“Reparamos que houve uma parte da humanidade que foi negligenciada. Isso não é aceitável”, lamentou Swaminathan quando entrevistada na Web Summit.
No caso do VIH, a responsável da OMS recorda outro número sombrio: cerca de 12 milhões de pessoas morreram de sida em África entre o período de desenvolvimento dos primeiros retrovirais e a atualidade.
E é essa a desigualdade entre regiões ricas e pobres, que a OMS pretende combater nos próximos tempos. “O que mudou em 2020 é que passámos a ter explicitamente a ciência à frente de tudo”, refere Swaminathan sobre a abordagem seguida pela OMS e por grande parte da indústria farmacêutica, que deverá lançar no mercado global um total de dois mil milhões de vacinas durante o próximo ano.
“O mundo tem de saber que isto não é caridade, mas sim uma necessidade”, reiterou a cientista, sem deixar de lembrar que é necessário recolher mais informação para se pronunciar sobre as novas vacinas.
Pelo contrário, Swaminathan não esconde o repúdio por entidades governamentais que terão defendido o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, quando a comunidade científica ainda não tinha certezas sobre os efeitos produzidos pelo fármaco e o debate ainda estava em curso.
Além das mudanças políticas que se perspetivam com a eleição de Joe Biden e da já anunciada reaproximação dos EUA à OMS, depois do afastamento ditado pelo ainda Presidente Donald Trump, Soumya Swaminathan congratula-se com algo que considera que deverá funcionar como referência no combate a doenças e pandemias nos tempos mais próximos: “A boa notícia é que a ciência voltou a estar nas primeiras páginas”, conclui.
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