“Um grande humanista” e um “pensador imprescindível”: as reações à morte de Eduardo Lourenço

Jorge Sampaio, Durão Barroso, Ferro Rodrigues e Catarina Martins. As reações em jeito de homenagem à morte do ensaísta
Jorge Sampaio, Durão Barroso, Ferro Rodrigues e Catarina Martins. As reações em jeito de homenagem à morte do ensaísta
"É, para mim em particular, um momento de grande tristeza. Trata-se de um amigo, um camarada, de alguém com quem tive a oportunidade de privar, de aprender muito, e que nos deixa", afirmou António Costa, que falava aos jornalistas à margem das comemorações do 1.º de Dezembro, em Lisboa.
O primeiro-ministro realçou que este momento é também "um convite a conhecer a obra" de Eduardo Lourenço e de prosseguir a reflexão que o ensaísta deixa. "Seguramente seria a sua vontade", acrescentou, sublinhando ainda a importância do ensaísta na reflexão sobre "os fatores da intemporalidade nacional", destacando o livro "Labirinto da Saudade", "seguramente um dos mais notáveis ensaios da ensaística portuguesa".
Ferro Rodrigues destaca o seu ingresso de Eduardo Lourenço, "de forma tão simbólica", no Conselho de Estado, por indicação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em 2016. "Portugal perde hoje o Professor e filósofo, o crítico e ensaísta; a Lusofonia uma das suas maiores referências intelectuais. À sua Família e Amigos endereço, em meu nome e no da Assembleia da República, as mais sentidas condolências", lamenta Ferro Rodrigues.
A coordenadora do BE, Catarina Martins, enalteceu o pensamento e a intervenção do filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço, considerando-o um "pensador imprescindível" que marcou presença quando era necessário "afirmar a solidariedade que une contra o ódio que divide".
"Foi filósofo, ensaísta, professor e, sobretudo, um pensador imprescindível. E teve, ao longo da vida, uma inquietude que o levou a marcar presença em momentos determinantes", enalteceu. A coordenadora bloquista recordou ainda que, "mesmo nestes últimos anos de vida, encontrou forças para marcar presença quando era imprescindível afirmar a solidariedade que une contra o ódio que divide".
"A sua morte é uma enorme perda, resta-me agradecer o que nos deixa", sublinhou.
"É com profunda consternação e pesar que o Partido Socialista recebeu hoje a notícia da morte de Eduardo Lourenço, filósofo, ensaísta e uma voz maior da cultura e do pensamento português", lê-se na nota de pesar do Partido Socialista. O PS lembra que deixa "uma vasta obra de grande originalidade coroada pelo Prémio Camões e pelo Prémio Pessoa".
"O seu permanente compromisso cívico e político, inseparável da sua vivência cultural distinguiu sempre Eduardo Lourenço, um cidadão ativo e comprometido com a vida, que atualmente era conselheiro de Estado", lê-se ainda na comunicação.
A nota de pesar termina com a Direção Nacional do Partido Socialista a endereçar as suas "mais sentidas condolências à família por esta perda inestimável" ao mesmo tempo que "reforça um agradecimento profundo por ter podido contar com tão nobre espírito ao lado do partido em diversas ocasiões, designadamente ao ter aceitado integrar as listas do Partido Socialista para o Parlamento Europeu".
O ex-Presidente da República Jorge Sampaio recordou Eduardo Lourenço como "um grande humanista da contemporaneidade", numa mensagem enviada à agência Lusa, em reação à morte do ensaísta, ocorrida esta terça-feira em Lisboa, aos 97 anos.
"É com grande emoção que recordo o pensador das profundidades do ser e da existência, o cultor insigne das letras, das artes e da cultura, um grande humanista da contemporaneidade, para quem ser português era indissociável do ser europeu e vice-versa", escreve Jorge Sampaio, na sua mensagem de pesar.
"Eduardo Lourenço foi, é e será sempre uma das maiores referências da cultura portuguesa, quer pela sua extensa obra, quer pela [sua] inesgotável profundidade e originalidade", assegura. "Para quem teve o privilégio de o conhecer mais de perto, ele era também um extraordinário contador de histórias, subtil observador da realidade e dotado de um sentido de humor único", recorda Jorge Sampaio.
Para o ex-Presidente e jurista, "Eduardo Lourenço tinha o talento raro de elevar qualquer conversa, por trivial que fosse, trazendo pontos de vista inesperados, informações e conhecimentos novos ou fazendo comentários que parecendo anódinos traziam sempre à tona o avesso das coisas". "Tive a fortuna de privar diversas vezes com Eduardo Lourenço nas mais diversas circunstâncias. Quero ressaltar a sua enorme inteligência, o seu comovente desprendimento, a sua modéstia ou até mesmo humildade, bem como o seu agudo sentido de humor", escreve Sampaio.
O antigo Presidente da República (1996-2006) recorda o episódio do ensaísta, quando, um dia, um jornalista lhe perguntou "porque nunca se doutorara, ao que ele terá respondido: 'Olhe, esqueci-me'". "Eduardo Lourenço deixou-nos hoje. Perdi o meu vizinho à mesa do Conselho de Estado, perdi um muito querido amigo por quem tinha uma estima e uma admiração ímpares, Portugal perdeu um dos seus mais notáveis cidadãos. Restam-nos o seu pensamento, os seus escritos, onde poderemos colher força para continuar à procura do rasto de Eduardo Lourenço escondido nas entrelinhas", conclui Jorge Sampaio.
O ex-presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso lamentou hoje a morte do ensaísta e filósofo, "um dos maiores portugueses" que afirma ter conhecido.
"Morreu Eduardo Lourenço um dos maiores portugueses que conheci e de quem guardo tão excelentes recordações. Poucos terão feito tanto quanto ele para 'identificar' e definir Portugal e a sua cultura e o nosso particular modo de ser. Um grande intelectual, um notável Português!", escreveu Durão Barroso na sua conta na rede social Twitter.
O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, manifestou "grande consternação" com a morte do ensaísta Eduardo Lourenço, considerando que foi "quem melhor refletiu a identidade nacional" e "sobre o que é ser português". "Recebo, com grande consternação, a notícia do falecimento de Eduardo Lourenço, aos 97 anos. Eduardo Lourenço foi, sem dúvida, quem melhor refletiu a identidade nacional, sobre o que é ser português, sobre o que nos diferencia enquanto cidadãos e enquanto povo à escala universal", refere Ferro Rodrigues, numa nota enviada à agência Lusa.
Na perspetiva do presidente da Assembleia da República, o ensaísta e filósofo "deixa um legado que vai muito além da vasta obra publicada, traduzindo-se na intervenção de toda uma vida nas áreas da educação, da cultura e da cidadania, justamente reconhecida por inúmeros prémios e condecorações".
"RIP! querido Eduardo. Curvo-me em tributo", escreve a militante socialista e pré-candidata à Presidência da República. "Que ironia, sabermos do seu desaparecimento no dia 1.º de Dezembro", escreveu Ana Gomes, numa alusão ao dia da Restauração da Independência, em 1640, e ao cospmopolitismo de Eduardo Lourenço e à universalidade da sua obra.
"Eduardo Lourendo, um português cosmopolita que, com infatigável lucidez, pensando em voz alta o país, ajudou a fazer e, portanto, a defender Portugal. Até de si próprio".
"Eduardo Lourenço foi filósofo e ensaísta notável", escreve Elisa Ferreira numa mensagem publicada na sua página na rede social Twitter.
"O seu olhar lúcido, original e heteredoxo ajudou-nos a pensar Portugal, a reflectir sobre nossa identidade e sobre nosso lugar na Europa. Deixa-nos um 'labirinto de saudade', mas também uma vasta reflexão sobre caminhos a trilhar", conclui a comissária europeia da Coesão e Reformas.
Numa mensagem de "profundo pesar pela morte do professor Eduardo Lourenço, colaborador de longa data e administrador não-executivo da Fundação entre 2002 e 2012", a presidente do Conselho de Administração, Isabel Mota, destaca "a sua imensa cultura, alavancada por uma enorme sede de conhecimento e interesse pelo sentido das coisas, o seu amor pela História, o seu discreto sentido de humor".
"Pensador de espírito livre e olhar profundo, aberto e sempre diferente sobre as questões, o professor Eduardo Lourenço deu, ao longo dos anos, um importante contributo na forma de se pensar o destino português", disse a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, citada pelo comunicado da instituição.
Recordando "um amigo", Isabel Mota destaca "a sua imensa cultura, alavancada por uma enorme sede de conhecimento e interesse pelo sentido das coisas, o seu amor pela História, o seu discreto sentido de humor, tão característico dos homens de grande sabedoria." "Uma referência que há de permanecer em nós apesar de, neste momento, deixar a Fundação Calouste Gulbenkian de luto", conclui.
O economista e antigo dirigente do Bloco de Esquerda (BE), Francisco Louçã, escolheu a ede social Facebook para recordar Eduardo Lourenço. "Será lembrado como o ensaísta mais marcante das últimas décadas, e era-o", refere Louçã numa mensagem onde recorda também a veia europeísta de Eduardo Lourenço.
"Será venerado como um exigente europeísta, que não cedia ao maniqueísmo financeiro, e era-o certamente. Será homenageado como um pensador da esquerda e um criador de pontes, como era. E deve ser recordado como um ser humano excecional, de amizade inquebrantável e fiel às interrogações que nos levam para a frente. Adeus, Eduardo", lê-se na publicação de Francisco Louçã.
Já o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina escolheu a mesma rede social para lembrar que "a morte do ensaísta, professor universitário, filósofo e intelectual português acontece num dia com particular significado para Portugal e para os portugueses".
"Foi precisamente sobre o que é ser português e sobre a nossa identidade que Eduardo Lourenço refletiu, escreveu, falou", recorda acrescentando que "era fascinante ouvi-lo falar. Da complexidade das coisas e do ser, com uma desassombrada simplicidade".
Esta sua singularidade, diz Medina, "é bem a marca da sua vida e obra. Desaparece o homem, mas o seu legado e pensamento ficam para os descobrirmos e nos descobrirmos no 'labirinto da saudade' que é tão português".
A eurodeputada do Bloco de Esquerda (BE) e candidata à Presidência da República, usou o Twitter para recordar o "interprete ímpar" da "singularidade" portuguesa, "um pensador generoso e atento, um construtor de pontes em tempos de incerteza". "Na falta que nos fará, encontremos na sua obra as pistas para um futuro mais justo. Obrigada, Eduardo Lourenço", lê-se na publicação.
"Na hora triste da morte de Eduardo Lourenço" o ex-ministro da Cultura, João Soares, utilizou também o Facebook para partilhar o testemunho de "profundo respeito pela sua memória". "O professor Eduardo Lourenço é alguém para com quem, como português e como socialista, tenho um sentimento de profunda gratidão e dívida. Que perdura, e perdurará, na sua obra", escreveu.
O sociólogo da Universidade de Coimbra Boaventura de Sousa Santos recorda o ensaísta Eduardo Lourenço, que morreu hoje, como um homem afável, muito simples e que "iluminou a vida de muita gente".
"Era uma pessoa de trato afabilíssimo, muito simples, um beirão de gema, muito amante da convivência com os amigos, da boa comida e da boa bebida, que contava anedotas e histórias incessantemente, que animava qualquer grupo. Tinha um lado humano extraordinário", afirmou à agência Lusa Boaventura de Sousa Santos.
Para o sociólogo, "morreu talvez o maior intelectual do século XX" português, que "iluminou a vida de muita gente" e que teve "uma presença pública muito forte". "Em Portugal, os intelectuais não são bem conhecidos, são ignorados, quando não são esquecidos. É preciso viver muito tempo. Eduardo Lourenço viveu o suficiente para ser reconhecido, celebrado e premiado. É consolador ver que o Eduardo Lourenço cortou o enguiço dos intelectuais que são pouco conhecidos e reconhecidos", frisou.
A escritora Lídia Jorge recorda Eduardo Lourenço, falecido esta terça-feira, "foi o intérprete do pensamento português", e "a figura mais inteligente da segunda metade do século XX", apelando que a sua obra seja transmitida aos jovens.
"Eduardo Lourenço é o ensaísta e filósofo que melhor representa o nosso pensamento, de uma forma não cética nem irónica, e, ao mesmo tempo, apaixonada, por ter conseguido juntar o seu pensamento racional com uma sensibilidade emocional profunda", comentou a escritora, em declarações à agência Lusa.
Para a escritora, amiga do ensaísta, Eduardo Lourenço "conseguiu captar, de forma única, o lado luminoso e obscuro da cultura portuguesa" ao longo de mais de 70 anos. "Tinha uma cultura humanista vastíssima, e não era uma erudição banal. Era profunda e cheia de sabedoria", acrescentou a autora, comentando ainda o temperamento do ensaísta: "Aliava a generosidade, a alegria e a vivacidade. É raro encontrar um filósofo tão brilhante, e ao mesmo tempo tão humilde, como ele era".
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