Fernando Belchior, o anterior advogado de Válter Abreu, é taxativo quando confrontado com as declarações deste arguido no Tribunal Judicial de Santarém no primeiro dia de julgamento do processo de Tancos: “É triste. É mais um processo que ele vai levar”, disse ao Expresso.
Segundo o Ministério Público, foi Válter Abreu, também conhecido como "Pisca", que por causa de uma dívida de mil euros relacionada com tráfico de droga disse a João Paulino, autor confesso do assalto, que os paióis de Tancos eram fáceis de assaltar e indicou o sítio exato por onde entrar. "Pisca" obteve a informação através do sobrinho, Filipe Abreu, furriel do exército, que prestava serviço em Tancos.
Válter Abreu nega ter alguma vez devido mil euros a João Paulino e desmente qualquer envolvimento em tráfico de droga. Confrontado pelo juiz com declarações anteriores em que admitia ter traficado, diz que foi mal aconselhado pelo anterior advogado. "Para não ser preso admitiu a um juiz que traficava?", espantou-se o magistrado.
Válter admite que o sobrinho lhe descreveu as falha de segurança em Tancos e que comentou esse facto com João Paulino, mas nega ter tido algum papel no assalto. "Nunca fui a Tancos", insiste. Nega ainda ter desligado o telemóvel na noite do assalto e não tem qualquer explicação para o aparelho ter sido ligado na autoestrada, já depois do assalto.
O juiz Nélson Barra pediu as declarações de Válter Abreu na fase de instrução para o confrontar com o facto de nessa altura ter confessado o seu envolvimento, crime que agora nega. "É tudo mentira", insiste. O juiz parece não se convencer. "Se não participou, como é que sabe tantos detalhes?"
Diz que só confessou os crimes de que é acusado por indicação do advogado, "Fernando Belchior", um ex-inspetor da PJ que lhe foi sugerido por essa mesma polícia: "eles telefonaram, ele apareceu." Foi este advogado que lhe pediu que "incriminasse" João Paulino e que se autoincriminasse. "Porquê? O que iria ganhar com isso?", admirou-se o atual advogado, Gonçalves Oliveira. "Disse-me que me safava, que não iria preso ".
Ao Expresso, Fernando Belchior garante que Válter Abreu o levou, juntamente com inspetores da PJ, aos paióis de Tancos, muito tempo depois do assalto, para fazer a reconstituição do crime. "Eu nunca lá tinha ido. Ele esteve junto às redes, contou como as cortou e que depois atirou o alicate para a ribeira."
O advogado refere ainda que, antes de ter tido lugar essa reconstituição, Válter Abreu lhe disse como e onde traficava a droga em Aveiro. Já sobre a alegação de que tinha sido sugerido pela PJ para defender "Pisca", alega que é tudo mentira. "Estou reformado da PJ há 20 anos. Fui segurança nesta polícia."
Belchior conta ainda que foi ele quem renunciou os seus serviços a Válter Abreu. "Ele não tinha como pagar os meus honorários."
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt