Aumentar a literacia em saúde mental, aprendendo, entre outras coisas, a identificar sinais de alerta e sintomas, e saber onde procurar ajuda ou como ajudar, é uma necessidade para a qual diversos especialistas da área têm alertado. Em resposta a isso, foi criado um curso online e gratuito sobre saúde mental que estará disponível, a partir desta sexta-feira, véspera do Dia Mundial da Saúde Mental, no site da associação ManifestaMente, responsável pelo projeto.
“A saúde mental ainda é um tema tabu, um tema que assusta. Enquanto sociedade, não estamos habituados a falar sobre o que sentimos. Há uma vergonha gigante em torno destes temas”, diz ao Expresso Ana Mina, enfermeira e presidente da associação, justificando assim a importância do projeto, que tem o patrocínio do Programa Nacional para a Saúde Mental e da Direção-Geral da Saúde. Por trás desta “vergonha”, diz, está “a falta de literacia” na área. “Não aprendemos sobre saúde mental na escola, mas sim a partir de ideias erradas ou preconceitos que são transmitidos, por exemplo, em filmes”.
O curso online, diz, tenta colmatar essa falha, “disponibilizando informação básica e essencial sobre saúde mental”. Tem a duração de 90 minutos e está estruturado em nove capítulos, onde se procura explicar o que é a doença mental, “que não é a preto e branco, como estamos habituados a pensar”, e “quais os sinais de alerta, seja em nós, seja naqueles que estão à nossa volta”. “Também se indica onde deve ser procurada ajuda e que tipos de apoio estão disponíveis”, bem como “formas de ajudar pessoas próximas que possam estar com problemas de saúde mental”, acrescenta Ana Mina.
O último capítulo, diz ainda a responsável, é o “preferido”, diz também, adiantando que é sobre cidadania e saúde mental. “Sentimos que a saúde mental tem estado abandonada aos técnicos, porque é um tema complexo e com uma linguagem, também ela, complexa”. A sociedade, continua, “não está habituada a falar sobre o tema”, e “faz falta esse diálogo, essa discussão”. “Deve-se fazer com a saúde mental o mesmo que se fez com o ambiente, área que muito enriqueceu com o contributo e ideias de técnicos de outros campos”, defende. Precisamente por isso, acrescenta, o curso “termina com uma série de sugestões de coisas que podemos fazer para melhorar a saúde mental de todos nós”.
E se já antes tudo isso era “pertinente”, com a pandemia ainda se tornou mais, tanto é que o programa do curso foi reformulado de modo a adaptar-se ao contexto atual. “A saúde mental sempre foi um assunto negligenciado. Com a pandemia, veio para a ribalta, tornou-se muito evidente, as pessoas começaram a dar mais atenção.”
Curso será apresentado num webinar promovido pelo Ministério da Saúde
O projeto segue-se a um inquérito lançado em 2018 pela associação, cujos resultados mostraram que “cerca de 90% dos inquiridos já sentiram preocupação sobre a sua saúde mental ou a de alguém próximo, sentindo por isso necessidade de aprender mais sobre o tema”. Já tinha sido completado por mais de 100 pessoas em sessões presenciais em Lisboa, explica ainda Ana Mina.
Será apresentado num webinar sobre o investimento e o acesso aos cuidados de saúde mental promovido pelo Ministério da Saúde, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala no sábado, 10 de outubro. O evento terá início às 15h30 desta sexta-feira e contará com a participação, entre vários especialistas na área, da ministra da Saúde, Marta Temido, e Graça Freitas, diretora-geral da Saúde.
A sessão dividir-se-á em três painéis - "Desafios da saúde mental em Portugal", "Sinergias em saúde mental" e "Saúde Mental - Resposta do SNS à Covid-19” - que contarão com a participação, entre outros especialistas na área da saúde mental, de Miguel Xavier, diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, e António Leuschner, presidente do Conselho Nacional de Saúde Mental. A sessão poderá ser acompanhada, em direto, no Portal SNS.