“Uma espécie de porta de entrada para alguém que se sinta perdido”: uma nova plataforma de saúde mental
Kathrin Ziegler
“Aos 15 anos tive o meu primeiro ataque de pânico e achei que ia morrer. Durou quase duas horas.” Em momentos como esses, “uma pessoa não sabe bem o que fazer, os pais dizem que está tudo bem, os amigos não sabem como ajudar”. Há uma nova plataforma para ajudar a resolver problemas como estes - e outros
Falar ajuda, falar com alguém que possa estar a passar pelos mesmos problemas ainda mais e foi precisamente por acreditar nisso que Pedro Marques, um dos fundadores da startup Hug-a-Group, criou uma plataforma que disponibiliza sessões de grupo online e outro apoio ao nível da saúde mental. A aplicação é lançada este sábado, dia em que se assinala o Dia Mundial da Saúde Mental.
“Quando se trata de saúde mental, falar com alguém que possa estar a passar pelo mesmo é das coisas que mais ajudam. Isso permite às pessoas relativizar e sentir que não estão sozinhas”, diz Pedro Marques ao Expresso, dando como exemplo o caso dos EUA, “onde, ao contrário de Portugal, é fácil encontrar grupos de suporte focados na saúde mental e em problemas específicos como a depressão, mesmo nas universidades”. “Cá também existem grupos, mas mais focados em problemáticas complexas como o alcoolismo, toxicodependência ou dependência de outras substâncias.”
E não é a esses, “com diagnósticos mais complexos, como é também o caso da esquizofrenia ou bipolaridade”, que se destina este projeto. “O objetivo da plataforma é ser uma espécie de porta de entrada para alguém que se sinta perdido”, diz o fundador, falando abertamente sobre a sua experiência: “Aos 15 anos tive o meu primeiro ataque de pânico e achei que ia morrer. Durou quase duas horas.” Em momentos como esses, acrescenta, “uma pessoa não sabe bem o que fazer, os pais dizem que está tudo bem, os amigos não sabem como ajudar”. “Ao falar com outras pessoas que passaram pelo mesmo aprende-se, e deixámos de nos sentir uns aliens.”
Os números mostram que tem tudo para correr bem, diz ainda. “Vários estudos sobre o assunto mostram que, ao fim de três meses de participação em grupos terapêuticas para a ansiedade ou a depressão, 97% das pessoas apresentaram resultados muito bons, em termos de diminuição de sintomas.”
Preço de cada sessão começa nos 15 euros, “valor inferior ao praticado habitualmente”
Sessões em grupo permitem uma diminuição dos custos e o preço é, de facto, outro dos aspetos que mais chamam a atenção na plataforma. Pedro Marques, 26 anos e natural de Torres Novas, explica que “há três planos de subscrição, com sessões mensais, quinzenais ou semanais, e que custam €15,90, €29,90 e €56,90, respetivamente”. Valores inferiores, acrescenta, “aos praticados habitualmente nos consultórios”. “Segundo a revista DECO, o preço de uma sessão de terapia individual é, em média, 55 euros.”
D.R.
Explica ainda que, além dos referidos planos, há um gratuito e que dá acesso ao chamado “Diário de Emoções” (onde se pode, conforme se lê na descrição na aplicação, “expressar as emoções diariamente e acompanhar o progresso”) e à Comunidade, “em que se pode partilhar, de forma anónima, o que se está a fazer para melhorar, incluindo exercícios”, diz. As sessões, nas quais podem participar três pessoas no mínimo e seis no máximo, têm a duração de uma hora, sendo acompanhadas por “psicólogos certificados pela Ordem dos Psicólogos que cumpram dois critérios: ter pelo menos três anos de experiência com grupos e facilidade em usar as ferramentas tecnológicas”. Se necessitar, a pessoa pode optar por sessões terapêuticas individuais, “mas como complemento ao plano”, o que significa que terá de pagar por sessão (€49).
Embora o lançamento da aplicação esteja agendado para este sábado (está prevista a oferta de um mês gratuito às primeiras 150 pessoas que se registarem), a plataforma foi criada há mais de um ano, no início de 2019, tendo sido feitos ao longo dos últimos meses “vários testes embrionários para ver se podia resultar ou não”. E não é de descurar o papel que a pandemia teve em todo este processo: “A necessidade que havia de prestar atenção à saúde mental é hoje em dia muito mais forte. Os problemas de saúde mental têm aumentado devido à incerteza trazida pelo vírus”, diz Pedro Marques, explicando que por isso “decidiu-se acelerar o lançamento”. “Queremos contribuir de alguma forma.”