A designação correta é “veículo aéreo não tripulado bimotor de asa fixa”, mas à vista desarmada qualquer leigo o descreverá como um pequeno avião, apesar dos mais de sete metros de envergadura, que fazem do AR5 um drone de respeito. De muito respeito, aliás. Preparado para voar até 20 horas ininterruptas, este modelo desenvolvido pela empresa portuguesa Tekever dispõe de comunicações de satélite e permite o transporte a bordo de várias câmaras e sensores, tornando-o a parte mais visível de um sistema completíssimo, que usa a mais avançada tecnologia para - entre outras coisas - salvar vidas.
Imagine-se um ponto negro no mar alto. Uma mancha mínima, impossível de decifrar no oceano. Captado pelas câmaras que equipam o AR5, esse ponto negro é rapidamente traduzido numa imagem com alta definição, cujo conteúdo permite fazer acionar e pôr em marcha uma imediata operação de socorro. É esta a razão pela qual este drone tem dado cartas na vigilância marítima do Canal da Mancha. Aí opera desde o final do ano passado, ao serviço do Ministério da Administração Interna britânico, em missões que por estes dias foram notícia, depois de terem sido as imagens fornecidas pelo Tekever AR5 que levaram à condenação de um traficante de seres humanos, no Reino Unido.
Ricardo Mendes, diretor-executivo da Tekever, tem orgulho no trabalho desenvolvido. A natureza das operações exige alguma reserva, e nem sempre é possível detalhar as especificidades das missões, mas não escondeu ao Expresso como é “extraordinariamente gratificante" a empresa que lider "contribuir para salvar vidas”.
Fundada por ex-alunos do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, a empresa opera em mais de 20 países e é responsável pela produção dos veículos aéreos, desde a conceção dos sistemas até ao software, passando pelos aspetos de engenharia, desenho e projeto dos aviões, que depois comercializa, “seja vendendo o equipamento propriamente dito, seja fornecendo ao cliente o serviço completo”, que inclui operar o sistema, como acontece no caso britânico.
A Tekever é líder do sector na Europa, explica Ricardo Mendes, fazendo vigilância marítima também em Itália e França, no Mar Mediterrâneo, mas os seus produtos não se limitam a auxiliar o combate à imigração ilegal. Permitem a fiscalização das pescas, do tráfico de droga e a monitorização da poluição, por exemplo. Ao contrário do AR5, que exige uma pista para a aterragem e a descolagem, o sistema do AR3 (que tem cerca de metade da envergadura e pesa 23 quilos) “pode ser operado a partir dos navios”.
Em África e no Sudoeste Asiático, há 'drones' da empresa a serem utilizados na vigilância de incêndios florestais, acrescenta Ricardo Mendes, reconhecendo que a área onde a empresa opera “está em franco crescimento”.
Não dá para ficar parado. Não perder mercado ou expandi-lo exige tecnologia “para ver mais, com mais precisão e mais longe”, e nisso continua a trabalhar a Tekever, garante o seu diretor-executivo.
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