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“Bolsonaro já matou mais de 130 mil pessoas na pandemia.” Entrevista a Bruno Bimbi, escritor e opositor que se autoexilou em Barcelona

Bruno Bimbi
Bruno Bimbi
Ana Portnoy

Pouco tempo depois de o deputado federal Jean Wyllys ter saído do Brasil em janeiro de 2019 devido às ameaças contra a sua segurança, o escritor e jornalista de origem argentina Bruno Bimbi seguiu-o. Vive agora em Barcelona, sem perder de vista a evolução da situação política brasileira. Acabou de lançar pela Porto Editora um livro - “O fim do armário” - sobre as dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBT, em que deixa sobretudo um alerta para a facilidade de as conquistas sociais se transformarem em retrocessos. Nesta entrevista ao Expresso, fala ainda da polémica sobre as aulas de Cidadania em Portugal

"O fim do armário" foi o título escolhido por Bruno Bimbi, 42 anos, jornalista e escritor nascido na Argentina que escolheu adotar a nacionalidade brasileira para o seu segundo livro. Mas esta aparente afirmação de que chegou ao fim a necessidade de gays, lésbicas, bissexuais e trans esconderem as suas identidades da sociedade é um engano aparente. Na verdade, este livro, o primeiro do autor lançado em Portugal pela Sextante, do grupo Porto Editora, é um detalhado levantamento sobre as históricas e institucionais dificuldades destas pessoas expressarem as suas efetivas personalidades. O livro já foi publicado na Argentina, Brasil, Peru, México e na Espanha.

A viver em Barcelona desde que Jair Bolsonaro foi eleito Presidente do Brasil, Bruno Bimbi era o principal assessor político do deputado federal Jean Wyllys, único parlamentar brasileiro assumidamente homossexual e que não hesitou em demarcar-se de Bolsonaro quando este, ainda deputado, manifestou-se a favor da tortura, tendo mesmo chegado a cuspir-lhe em pleno plenário. Depois da morte de Marielle Franco, vereadora pelo Rio de Janeiro, assassinada em março de 2018 juntamente com o seu motorista, as ameaças contra a vida de Jean Wyllys aumentaram de intensidade e também Bruno Bimbi diz ter sentido fechar-se à sua volta um cerco, promovido por apoiantes de Jair Bolsonaro. E, no dia em que se encerraram as urnas eleitorais e foi divulgado o resultado da segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, em outobro de 2018, o jornalista decidiu sair do Brasil, prometendo só regressar quando o Presidente da República fosse outro.

Em conversa com o Expresso por videoconferência, Bruno Bimbi fala da situação da comunidade LGBT, dos riscos de retrocesso das conquistas sociais mesmo em países onde estas parecem asseguradas e, sobretudo, aborda a situação da política no Brasil. Um diálogo com poucos filtros, sem receio de confrontar os poderes instituídos.

Porque escolheu como título do seu novo livro "O fim do armário"?
É uma constatação mas é também uma expressão de desejo. Os armários estão começando a ser desmontados, embora a relação com a família continue a passar pelo silêncio e a repressão continue a existir. Mas é preciso sublinhar também que já é possível homossexuais se casarem e adotarem crianças em alguns países, provando que as relações sociais mudaram. A presidente da câmara de Barcelona, por exemplo, é bissexual e fala abertamente sobre este tema, que já não é visto como um assunto político. O seu vice é gay e o líder do Partido Socialista na Catalunha também. São questões da vida pessoal deles. Ou seja, houve sobretudo, ao longo do último meio século, mudanças radicais, que começaram a desmontar os armários. Mas ainda falta muito, sobretudo porque esta mudança radical não aconteceu de forma uniforme no mundo. Há vastas regiões do planeta, como África ou Médio Oriente e as antigas repúblicas soviéticas, onde a situação da homossexualidade piorou.

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