Sociedade

Um spray ou comprimido contra a solidão

Um spray ou comprimido contra  a solidão
Francis G. Mayer / Getty

Cientistas estão a desenvolver um fármaco para sanar sensações e efeitos físicos provocados pela solidão.

Catarina Maldonado Vasconcelos

Apesar da discórdia que convoca o tratamento para a solidão, uma ideia é recorrente nos estudos dedicados ao tema: sentir-se sozinho não é o contrário de estar-se acompanhado. Um problema complexo que se pode ter agudizado com a pandemia. “Algumas pessoas ficaram mais conscientes da sua solidão devido à incapacidade de se distraírem com os outros. Removamos as distrações sociais e descobriremos o que realmente está cá dentro”, diz ao Expresso Caleb Dodson, psicoterapeuta de Seattle. Rachael Benjamin, psicoterapeuta de Nova Iorque, corrobora: “A pandemia também nos consciencializou para a forma como mascarávamos a solidão.”

Uma espécie de epidemia — é assim que outros investigadores interpretam a solidão nas sociedades modernas, o que leva vários cientistas a procurar uma solução farmacológica para o problema. “As pessoas têm vindo a referir-se à solidão como uma epidemia desde os anos 80, e agora é mesmo categorizada como uma pandemia, tal como a covid-19”, afirma ao Expresso a historiadora cultural e autora de “Uma Biografia da Solidão”, Fay Bound Alberti.

A investigadora Stephanie Cacioppo está desde 2017 a conduzir ensaios clínicos para chegar à fórmula de um comprimido que anulará os efeitos que a solidão provoca no organismo. A alopregnanolona, um esteroide produzido no cérebro, tem tido resultados positivos na redução da ansiedade que perpetua a sensação de isolamento. A solução chegou ao mercado em 2019, indicada para a depressão pós-parto, e custa 34 mil dólares (€28.900) por frasco. Mas as atenções voltam-se agora para a oxitocina, conhecida como a hormona dos afetos, por ser libertada durante o parto, a amamentação e o contacto físico.

Dirk Scheele, da Universidade de Oldenburg, na Alemanha, está envolvido nos estudos para criar um spray nasal baseado na oxitocina e acredita que o tratamento, associado à psicoterapia, pode ser revolucionário. “A solidão é uma condição dolorosa e tem consequências mentais e físicas devastadoras. Aumenta o risco de depressão e ansiedade e pode ser confundida com a dor física. É muito importante investigar os mecanismos neurológicos que contribuem para esta perceção, e a oxitocina tem efeitos pró-sociais, pelo que estamos a conduzir ensaios para compreender como a hormona em spray, combinada com a psicoterapia, pode ajudar.”

Apesar de associar à solidão consequências severas, como enfartes e doenças cardíacas, a psicóloga Julianne Holt-Lunstad não considera a abordagem medicamentosa uma cura permanente. “Como há muitas causas adjacentes, o tratamento tem de atingir a raiz do problema. As soluções farmacêuticas podem ser adequadas apenas nalguns casos”, frisa.

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