Sociedade

Maior longevidade e mais diagnósticos ajudam a explicar aumento dos casos de cancro

Evitar comportamentos de risco é uma das principais medidas de prevenção do cancro
Evitar comportamentos de risco é uma das principais medidas de prevenção do cancro
Getty Images

Projetos Expresso. Fatores de risco associados às doenças oncológicas e a forma como estas são combatidas estarão no centro da primeira conversa do ciclo de debates “IMUNES”, promovido pelo Expresso e pela farmacêutica MSD, na próxima terça-feira, 30 de junho. Para ver em direto no Facebook do Expresso

Francisco de Almeida Fernandes

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que um quarto da população portuguesa terá, durante o período de vida, uma doença oncológica e que o cancro levará à morte cerca de 10% dessas pessoas. Valores que preocupam, mas que correspondem aos últimos dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística sobre as principais causas de morte em Portugal em 2018 - uma em cada quatro mortes deveu-se a tumores malignos.

Paulo Cortes, coordenador da Unidade de Oncologia do Hospital Lusíadas Lisboa, explica que o crescimento anual do número de casos deve ser olhado de forma multifatorial, em parte pelos fatores de risco, mas também pelo aumento da esperança média de vida. “O aumento da longevidade das pessoas leva a uma maior probabilidade de existirem alterações genéticas que dão origem a cancros”, diz. Os avanços da medicina e da tecnologia, porém, têm permitido aos profissionais ter “um maior número de diagnósticos mais precisos”, essenciais para identificar a doença e enfrentá-la mais cedo, engrossando, consequentemente, os números oficiais.

Os progressos científicos têm-se revelado fundamentais para uma deteção precoce, mas sobretudo para “melhorar a qualidade de vida dos doentes” e aumentar “as sobrevidas”, acrescenta Ricardo Mexia. O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) refere o papel dos rastreios e o incentivo à adoção de comportamentos responsáveis como formas de diminuir a incidência da doença oncológica. “Questões como a alimentação, prática do exercício físico, cuidados na exposição solar ou até a vacinação” são importantes para contrariar os fatores de risco e devem ser implementadas em conjunto com outras medidas de saúde pública.

No entanto, e contrariamente ao que seria expectável, o aumento substancial de informação disponível relativa às causas na origem dos diferentes tipos de cancro não acompanha a redução de casos. Paulo Cortes acredita que “as pessoas estão mais informadas, mas não significa que mudem os comportamentos” ao ponto de inverter a tendência de crescimento, e atribui responsabilidade à comunicação. Na sua perspetiva, não basta que as autoridades de saúde apostem em campanhas de sensibilização pontuais, é preciso garantir “uma estratégia de continuidade”.

A crítica é partilhada pelo professor e investigador José Precioso, da Universidade do Minho, que defende projetos de sensibilização frequentes e direcionados desde tenra idade. “É importante incluir estes temas no currículo escolar”, explica, dando como exemplo o tabagismo, que diz ser responsável por cerca de 85% dos cancros de pulmão, e o aumento do seu consumo no sexo feminino, em contraste com uma ligeira redução nos homens. Por outro lado, o académico elogia o passo dado com a implementação da Lei do Tabaco, em 2018, embora acredite ser importante alargar as proibições porque, defende, a imposição é “aquilo que melhor resulta em termos de mudança de comportamentos”.

Conversas sobre saúde e bem-estar

Numa altura em que a sociedade procura adaptar-se à convivência com a covid-19 e depois de vários meses como tema central na vida coletiva, discutir o papel da saúde e do bem-estar ganha uma importância acrescida. Termos como ‘imunidade’ ou ‘fatores de risco’ fazem hoje parte do léxico da comunicação diária em Portugal, mas nem sempre é fácil compreender, de forma simples e eficaz, informação muitas vezes técnica e complexa.

No ano em que a farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD) comemora 50 anos em Portugal, o Expresso quer juntar, todos os meses, especialistas e associações de diferentes áreas em torno de temas relevantes, “da alimentação aos colestrol e diabetes” das “vacinas aos cuidados de saúde gerais”, dos antibióticos à alimentação.

O primeiro debate, “Imunes: dos fatores de risco ao cancro”, acontece na próxima terça-feira, 30 de junho, e contará com a participação de Ricardo Mexia (ANMSP), Paulo Cortes (Hospital Lusíadas Lisboa), José Precioso (Universidade do Minho), Fernando Barata (Centro Hospitalar Universitário de Coimbra) e Paula Martins de Jesus (MSD). A conversa, em formato digital e com moderação do jornalista da SIC Rodrigo Pratas, está agendada para as 18h na página de Facebook do Expresso.

Seguem-se, ao longo dos próximos meses, os debates “Imunes: da alimentação ao colesterol e diabetes”, “Imunes: das vacinas aos cuidados de saúde gerais” e “Imunes: quando o corpo precisa de ajuda, os antibióticos”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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