“I can’t breathe” é o grafitti mais recente nas paredes de Lisboa. Num prédio da Rua Carlos Mardel, uma das que emolduram a Alameda D. Afonso Henriques, a frase escrita a spray preto parece dar a indicação a quem chega: é aqui que começa a manifestação contra o racismo e a violência policial, uma das muitas que se têm multiplicado por todo o mundo, desencadeadas pela morte, a 25 de maio, de George Floyd, o afroamericano que esteve com o pescoço sob o joelho de um polícia durante oito minutos e 46 segundos, acabando por morrer enquanto avisava: “Não consigo respirar”.
Em homenagem a Floyd, mas com uma mensagem muito mais abrangente, reuniram-se ao longo da Avenida Almirante Reis milhares de pessoas, cinco mil segundo as autoridades. “Como cresci no centro de Lisboa e não numa zona onde existam mais negros, desde miúda que eu era ‘a preta’, isto quando não era ‘a preta de merda’”, conta ao Expresso Denise Furtado, de 19 anos, que vai agora ingressar este ano no curso de História.
Quando foi para o liceu já havia mais pessoas da cor dela, mas isso não resolveu tudo: “Foi sempre difícil fazer amigos, demorava muito, nunca foi uma coisa imediata para mim”. Hoje tem aqui uma amiga, uma das melhores, Magda Ferreira, também de 19 anos, quase a entrar no curso de Comunicação Social. “Tenho tantas amigas negras, sei muito bem o que elas passam todos os dias. É muito importante estarem aqui pessoas brancas, temos de ter noção do nosso privilégio e isso não é só ter dinheiro, é deixarem-te entrar num táxi, é poderes entrar com o teu grupo de amigos numa discoteca”.
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