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Covid-19. Ex-diretor-geral da Saúde pede à população para confiar nas autoridades: “O alarmismo é inimigo do controle da doença”

Covid-19. Ex-diretor-geral da Saúde pede à população para confiar nas autoridades: “O alarmismo é inimigo do controle da doença”
Ana Baião

“O pior que se pode fazer agora é lançar dúvidas sobre as medidas que têm sido justamente tomadas e aplicadas”, considera Francisco George

Francisco George considerou hoje “apropriadas” as medidas para conter o surto de Covid-19 em Portugal e apelou à população para confiar nas autoridades, lembrando que “o alarmismo é inimigo do controle da doença”.

Face ao aumento de casos de infeção, o Governo ordenou a suspensão temporária de visitas em hospitais, lares e estabelecimentos prisionais na região Norte e a limitação de visitas às prisões de todo o país.

Foram também encerrados temporariamente alguns estabelecimentos de ensino secundário e universitário em várias zonas do país.

Comentando à agência Lusa estas medidas, Francisco George afirmou que são apropriadas e ajustadas à situação em que Portugal se encontra.

“Nós não queremos mergulhar num problema com a dimensão que se verifica no norte da Itália, o que nós queremos é ganhar mais tempo e sobretudo evitar que este problema transborde para a comunidade” e a única maneira de o fazer é trabalhar como se tem feito na contenção do vírus.

“Conter o vírus em ambiente hospitalar é aquilo que se está a fazer e bem em Portugal”, afirmou o especialista em saúde pública e presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.

Francisco George adiantou que as medidas recentemente tomadas vão ao encontro de iniciativas adotadas em países europeus confrontados com este problema e defendeu que “os portugueses devem ter confiança, devem colaborar, mas sobretudo estarem, a todo o momento, bem informados”.

Para tal, defendeu, é preciso saber distinguir a fonte informativa e excluir deste processo “’sites’ de credibilidade duvidosa na Internet, redes sociais e mesmo emissoras que não estejam a observar o rigor da verdade”.

“É preciso estar permanentemente informado a partir de fontes de referência” porque é a “componente principal neste processo que visa controlar e prevenir a doença”, sustentou.

Para o especialista, os portugueses têm que “depositar genuinamente inteira confiança” no que é comunicado pelo Ministério da Saúde, em particular pela Direção-Geral da Saúde.

“O pior que se pode fazer agora é lançar dúvidas sobre as medidas que têm sido justamente tomadas e aplicadas”, disse, sublinhando que “o alarmismo é inimigo do controle da doença”.

As diferenças entre o vírus da gripe e o Covid-19

O ex-diretor-geral da Saúde Francisco George afirmou esta segunda-feira que o novo coronavírus e a gripe sazonal são vírus distintos, sabendo-se já que a nova epidemia é mais mortal.

Apesar de a doença provocada pelo novo coronavírus(Covid-19) ainda não ser totalmente conhecida, "já se identificou o vírus, a forma como se transmite, a sua composição molecular, estão a ser ensaiadas vacinas e um novo medicamento que se administra por via oral para apoiar o controlo da doença", disse o especialista em saúde pública.

Também já se sabe que "a probabilidade de se morrer da doença é comprovadamente maior para o novo coronavírus do que para outras doenças respiratórias como a gripe", disse o também presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.

Na semana passada, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, já tinha afirmado que o novo coronavírus - família de vírus que pode causar infeções respiratórias como pneumonia - é mais perigoso do que os vírus da gripe, apresentando uma taxa de mortalidade de 3,4% (para a gripe é menos de 1%).

Para o especialista em saúde pública Francisco George não se pode comparar o novo coronavírus com a gripe porque são "vírus distintos, doenças distintas, que geram epidemias distintas".

"Provavelmente, terá havido desde o início um processo de comparação, a meu ver indevida, com o vírus da gripe", mas não se pode comparar um problema com o outro, afirmou.

Francisco George salientou ainda que "há avanços que têm sido muito rápidos" e que "este é o momento da ciência que tem de ser acompanhado por confiança" por parte dos portugueses e pela adoção de medidas de etiqueta respiratória como lavar frequentemente as mãos.

"A falta de cuidados que os portugueses sempre demonstram em relação à gripe é inimiga da adoção de medidas para o novo coronavírus", alertou.

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