Sociedade

“Vi três polícias em cima de uma menina no chão e corri para a abraçar”, conta vítima de violência policial em Lisboa

Taiane Barroso relata ao Expresso o momento em que uma Unidade Especial de Polícia interveio num desfile de Carnaval no Cais do Sodré, em Lisboa. No vídeo, que se espalhou pelas redes sociais, vê-se a polícia a disparar um tiro para o ar

No Cais do Sodré, o “Carnaval estava maravilhoso”, não só por causa do sol e das temperaturas com que Lisboa agraciou os foliões no último domingo, como porque o ambiente era de festa no final de mais um desfile a terminar com vista para o Tejo. Só que já o dia se tinha feito noite quando uma equipa da Unidade Especial de Polícia (UEP) imobilizou, puxou com um bastão e atirou ao chão duas participantes do desfile. Pelo meio, um tiro para o ar. O que se vê no vídeo partilhado esta segunda-feira nas redes sociais é o que Taiane Barroso, uma das intervenientes, que se queixa de violência policial, define ao Expresso como “a agressão de uma mulher em praça pública”.

“Estava muita gente [na rua do bar], talvez umas 300 pessoas”, relata. A certa altura, já perto das 22h, a polícia terá aberto um “clarão”, para deixar passar um autocarro turístico, o que deixou as pessoas “condensadas” num espaço reduzido. Taiane estava entre elas, até que ouviu gritos. “Olhei para o 'clarão' e, lá no meio, estava uma mulher deitada, com três polícias em cima dela, a fazer sei lá o quê, e mais uns dois a olhar.” Foi nessa altura que Taiane decidiu correr “para a abraçar”. “A perna dela estava com sangue. Já me disseram que ela tinha a testa aberta, mas eu não consegui perceber. Só vi o sangue na perna.”

No momento em que abraça a mulher, Taiane é afastada pela polícia e é aí que começa o que se vê no vídeo. “Eu agarrei no braço dela até que senti um bastão no pescoço a puxar-me.” À volta, onde antes não estava ninguém, por causa do tal ‘clarão’, começaram a juntar-se algumas pessoas, quase todas a filmar. Depois do bastão, Taiane volta a tentar juntar-se à mulher, que não conhece e de quem não se vê a cara, no vídeo em causa. Mesmo não a conhecendo, decidiu intervir porque “aquilo era uma agressão a uma mulher em praça pública”.

Como se vê nas imagens, empurrada por outro polícia, Taiane cai. Até que se ouve um tiro. “Nem percebi, o meu cérebro apagou. Quando vi o vídeo fiquei chocada”, conta. Momentos depois, percebeu que a mulher, igualmente em trajes carnavalescos, foi levada pela polícia. Quase um dia depois, não sabe o que lhe aconteceu, “o que é preocupante”. Quanto à própria, continuou a ser puxada para que se afastasse da outra mulher — “O meu braço ainda está doendo muito” — até que pediu a um dos agentes que a levantasse. Depois disso, “saí dali e chorei para caramba.”

Taiane Barroso não sabe que arma era, não sabe quem são os polícias, mas já decidiu avançar com uma queixa para o Ministério Público por violência policial. “Disseram-me que os polícias são muito solidários entre eles e que vai ser difícil, mas se não nos queixarmos, não fica nenhum registo” destes episódios.

Depois do vídeo que partilhou, outros se seguiram.

Brasileira, Taiane também já começou a receber comentários xenófobos, a partir do momento em que as imagens se espalharam pelas redes sociais. “Não me surpreendem. Já vi tudo isso acontecer no Brasil.”

O Expresso contactou a PSP ao final da manhã, mas não obteve resposta até ao momento.

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