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Casos de demência em Portugal mais do que duplicam até 2050: “Temos de perceber que não é uma doença inevitável”

Casos de demência em Portugal mais do que duplicam até 2050: “Temos de perceber que não é uma doença inevitável”
Peter Dazeley/Getty Images

Estudo da Alzheimer Europe indica que os casos de demência em Portugal vão mais do que duplicar até 2050, numa tendência superior à da União Europeia. “Com o envelhecimento acentuado da nossa população, as demências vão-se tornar ainda mais um problema de saúde pública”, diz Ricardo Taipa, neurologista do Hospital Santo António

Tiago Soares

A prevalência de portugueses com demências - como a doença de alzheimer ou as demências vasculares - diminuiu em 2018, segundo o mais recente estudo da Alzheimer Europe, apresentado esta terça-feira no Parlamento Europeu, em Bruxelas. No entanto, as projeções desta associação europeia dizem que no futuro a percentagem de pessoas que sofrerá de demências vai mais do que duplicar.

Em 2018, o ano a que se refere o estudo, a percentagem de casos de demência em Portugal era de 1,8% - cerca de 193.516 casos. As projeções da Alzheimer Europe dizem que em 2025 será de 2,29% e de 3,82% em 2050. Esta subida ultrapassa a tendência europeia e deve-se, sobretudo, ao “envelhecimento acentuado da população portuguesa”, aponta ao Expresso Ricardo Taipa, neurologista do Hospital Santo António, no Porto.

“O principal factor de risco das demências será sempre a idade. Como as pessoas vão viver cada vez mais tempo, é imperativo que esse tempo corresponda a anos com qualidade de vida e não apenas a anos de vida”, diz Ricardo Taipa, sublinhando que é necessária uma aposta estrutural na prevenção, dando o exemplo das demências vasculares, que um estudo recente da Sociedade Portuguesa do AVC indica poderem ser responsáveis por mais de 50% dos casos totais de demências. “Este tipo específico de demências é ativamente evitável, diminuindo fatores de risco como a obesidade, o tabagismo ou o sedentarismo.”

A nível da UE, estima-se que existam mais de 7.853.705 pessoas com demências, uma redução em relação a estimativas anteriores. Além disso, o estudo da Alzheimer Europe indica que as mulheres são bastante mais afectadas por demências do que os homens. Em Portugal, são mais de 133 mil doentes do sexo feminino e 59,9 mil do sexo masculino. A nível europeu, a relação é de 6.65 milhões de mulheres para 3.13 milhões de homens.

No caso da doença degenerativa mais conhecida - o alzheimer - Ricardo Taipa considera que um tratamento ainda não será uma realidade no “curto-prazo”, mas ressalva que esta “pode progredir de forma lenta”, o que eleva o papel da prevenção. O grande desafio, diz, é “encontrar formas de rastrear a população em situações pré-clínicas”, ou seja, antes dos sintomas se manifestarem.

Calvário na hora do diagnóstico

A verdade é que a saúde mental é tratada como o parente pobre da medicina. A sociedade civil não está tão alerta e informada. “Em Portugal tem havido investimentos importantes na tentativa de nos equipararmos aos melhores cuidados de saúde europeus - ao nível das doenças cardíacas ou oncológicos, por exemplo - mas esse trabalho ainda não chegou à saúde mental e às demências em concreto.”, diz Ricardo Taipa, apontando ser urgente um maior apoio que não seja “puramente clínico.”

O diagnóstico de uma doença como o alzheimer é muitas vezes um calvário para os doentes, sobretudo em casos precoces, com menos de 65 anos. Um cancro tem nome, vê-se na TAC, tem tratamentos associados. Uma demência não, precisa de várias consultas e exames que não se veem”, explica. Nesse sentido, é necessário reforçar uma mensagem de importância da saúde mental.

“Este já é um problema de saúde pública mas irá agravar-se no futuro e a idade será sempre o ponto central. No futuro, uma franja considerável da população - e que será cada vez mais envelhecida - vai-se debater com questões importantes relacionadas com as demências. Para garantir que mais anos são sinónimo de qualidade de vida para estas pessoas, será preciso um plano estratégico a nível nacional, porque, para já, os cuidados primários são bastante limitados”, remata.

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