
Desempregados, estudantes e imigrantes encontram nas entregas ao domicílio a sobrevivência ou um dinheiro extra. Como num jogo virtual, correm 12 horas por dia atrás de drops, com a vida presa a likes
Desempregados, estudantes e imigrantes encontram nas entregas ao domicílio a sobrevivência ou um dinheiro extra. Como num jogo virtual, correm 12 horas por dia atrás de drops, com a vida presa a likes
texto
foto
João (que não é João) passou o réveillon com um zumbido nos ouvidos e um formigueiro nos pés, que lhe foi colonizando o corpo e a mente, à medida que se aproximava do destino: Lisboa. É brasileiro, do estado de Mato Grosso, tem 27 anos, é casado, pai de dois filhos (2 e 4 anos), engenheiro civil. Deixou a família em São Paulo, onde viviam há dois anos. O Brasil do crescimento foi uma utopia assassinada à queima-roupa.
“Está difícil o Brasil.” Foi a primeira coisa que lhe saiu, encostado ao pequeno muro, por cima do acesso ao parque de estacionamento, naquela península cheia de motas, junto à entrada do Amoreiras Shopping Center, em Lisboa, a olhar para o smartphone como se estivesse sob hipnose. Rezava aos deuses da tecnologia para lhe cair uma drop [pedido] na conta. João é estafeta da Uber Eats. É um cidadão precário e um trabalhador precário. “Se Deus for grande” há de permitir que ele faça umas quantas entregas, mesmo sabendo o quanto custa entregar comida com fome.
Este é um artigo exclusivo. Se é assinante clique AQUI para continuar a ler. Para aceder a todos os conteúdos exclusivos do site do Expresso também pode usar o código que está na capa da revista E do Expresso.
Caso ainda não seja assinante, veja aqui as opções e os preços. Assim terá acesso a todos os nossos artigos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt