Na Capital Verde Europeia 2020, a proposta de reconfiguração da Baixa de Lisboa, apresentada por Fernando Medina na última sexta-feira e que pretende tirar 40 mil carros por dia daquela zona da cidade, está longe de ser consensual. Moradores, comerciantes e prestadores de serviços ouvidos pelo Expresso até concordam que a poluição na cidade é problemática, mas queixam-se de um plano “radical” e “extemporâneo”.
Paula Fidalgo teria mais adjetivos para lhe dar. “É delirante”, afirma a empresária, dona de uma empresa de animação turística. Tem um tuk-tuk elétrico que lhe custou mais de 30 mil euros de investimento. Se tudo correr como planeado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), na Zona de Emissões Reduzidas Avenida Baixa Chiado (ZER ABC) vão ser admitidos apenas 104 dos atuais 700 tuk-tuks que existem na cidade. A escolha será feita por sorteio. “É uma completa discriminação. Ubers e carros elétricos podem entrar todos, mas os ‘tuks’ elétricos têm limite. Em nome de quê?”, pergunta Fidalgo, que acusa o executivo socialista da Câmara de não respeitar os pequenos empresários. “E os médios também, porque há empresas com um tuk-tuk, mas há outras com dez, 20. Há várias famílias que dependem deste negócio.”
Paula Fidalgo está parada no seu tuk-tuk elétrico na Rua Garrett, que passará a ser pedonal. Não tem dúvidas de que o negócio vai ficar abalado no dia em que deixar de poder circular por ali. Conta que aproveitou o boom turístico quando ficou desempregada e, numa altura em que se falava de empreendedorismo, empreendeu, criando a própria empresa com um apoio do IEFP, que lhe concedeu um crédito com uma taxa de juro diferenciada. Agora teme que o investimento lhe escape entre os dedos. “Isto é a minha sobrevivência”, repete. A empresária garante que há um sentimento de revolta generalizado entre os proprietários deste tipo de veículos, sobretudo porque vão continuar a ser permitidos os oficiais “hop-on, hop-off” (da Carristur, por exemplo), que fazem circuitos turísticos em Lisboa. Paula Fidalgo chama-lhes “trambolhos” por causa dos dois andares, que “nunca vão cheios”. “Isto vai passar a ser o centro histórico dos pesados.”
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