Paulo “Fechaduras” Lemos, serralheiro de Albufeira, era uma das testemunhas mais esperadas para serem ouvidas pelo juiz Carlos Alexandre na fase de instrução do caso de Tancos. Ao magistrado e aos advogados presentes no Tribunal de Monsanto, garantiu que desistiu de participar no roubo aos paióis quando os assaltantes lhe disseram que a missão era a de ir roubar explosivos para depois fornecer a organização terrorista basca ETA.
Essa informação ter-lhe-à sido dada num almoço com o alegado cabecilha do assalto João Paulino, num restaurante em Sete Rios (Lisboa), em março de 2017. Cinco dias depois, foi ter com uma procuradora do DIAP do Porto para contar tudo o que sabia. No restaurante, Paulino ter-lhe-á mostrado fotos aéreas do Google Maps dos paióis que iam ser assaltados, mas nunca revelou o nome do alvo. “Só que iam furtar armas em instalações militares na zona centro”, conta uma pessoa presente nesta audição em Monsanto.
“Fechaduras” teria de arrombar as fechaduras dos paióis. Em troca, receberia 50 mil euros. O serralheiro confirmou no tribunal o que já dissera ao juiz João Bártolo em primeiro interrogatório: de que tinha feito uma promessa à mãe de que não voltaria a ser preso.
Esta testemunha-chave do caso assegurou ainda a Carlos Alexandre que não trabalhou como informador para a Polícia Judiciária e que não recebeu dinheiro ou telemóveis como recompensa. “Disse que apenas cumpriu a sua missão como cidadão”, acrescenta a mesma fonte.
Explicou que avisou a PJ por três vezes, sempre após cada telefonema que recebeu do alegado líder do assalto João Paulino para agendarem um encontro. Mas que ia recebendo ordens para ir adiando esses encontros.
Em relação ao plano engendrado com os inspetores da PJ para que um dos cúmplices, e seu amigo, “Nando”, viesse a encontrar-se com um alegado comprador de explosivos do IRA, confirma que nada correu como planeado. Percebeu que o grupo já desconfiava que trabalhava em segredo para a PJ e que a história de cobertura com o homem do IRA era apenas uma armadilha.
Logo a seguir ao assalto, que se realizou sem “Fechaduras”, na madrugada de 28 de junho de 2017 (três meses após o encontro no restaurante em Sete rios), o serralheiro deslocou-se a Aveiro para se encontrar com João Paulino. Garantiu em tribunal que esse encontro não foi concertado com a PJ, e que foi a Aveiro porque se iria encontrar com a mãe no Porto. Disse em tribunal que quando interrogou Paulino sobre se tinha sido ele a assaltar os paióis de Tancos recebeu uma resposta negativa.
“Fechaduras” também afirmou ao juiz e advogados que não percebeu porque os ladrões não chegaram a ser apanhados pelas autoridades.
Na próxima segunda-feira será ouvido o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes na condição de arguido.
O caso tem 23 acusados, entre eles nove alegados assaltantes e catorze pessoas suspeitas de terem participado no plano ilegal de restituição das armas furtadas. São acusados de crimes de associação criminosa, abuso de poder ou denegação de justiça.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt