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Ao contrário de outros países, Portugal não obriga os repatriados a quarentena. Quais os planos para casos de coronavírus?

Ao contrário de outros países, Portugal não obriga os repatriados a quarentena. Quais os planos para casos de coronavírus?
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Três hospitais portugueses estão de prevenção por causa do coronavírus. Curry Cabral reservou 14 quartos, totalmente isolados e mantidos a uma pressão negativa, para casos suspeitos ou confirmados de infeção, e preparou “circuitos de passagem” alternativos para doentes e pessoal médico

Ao contrário de outros países, Portugal não obriga os repatriados a quarentena. Quais os planos para casos de coronavírus?

Helena Bento

Jornalista

Ao contrário de outros países, Portugal não obriga os repatriados a quarentena. Quais os planos para casos de coronavírus?

João Pedro Barros

Editor Online

Ao contrário de vários países, nomeadamente europeus, Portugal não tem prevista uma quarentena automática para os cidadãos repatriados devido ao surto de coronavírus – o que aliás seria inconstitucional, porque só está previsto para casos do foro psiquiátrico. Na Alemanha, Espanha, França e Reino Unido a medida está prevista, se necessário durante 14 dias, o período de incubação da doença até ao aparecimento dos primeiros sintomas.

Em Espanha, por exemplo, o “El País” já avançou que a quarentena será cumprida no Hospital Central Gómez Ulla, em Madrid, onde está reservado um piso completo. No Reino Unido, Matt Hancock, o secretário da Saúde, já avisou: “A segurança pública é a nossa prioridade. Quem regresse de Wuhan será isolado durante 14 dias, com todos os cuidados médicos necessários”.

Apesar de não estar prevista a obrigatoriedade da quarentena, a ministra da Saúde afirmou esta quinta-feira que os portugueses a retirar da China serão rastreados antes de iniciarem a viagem e na chegada ao aeroporto. Marta Temido acrescentou que Portugal ainda estuda a hipótese de um espaço de confinamento, "seja no domicílio ou noutro tipo de espaço", o que depende da “condição clínica destas pessoas e do seu historial anterior".

Plano de contingência inclui equipamento de proteção e espaços específicos

O plano de contingência que está acionado em três hospitais portugueses implica equipamento de proteção individual, espaços e meios alocados e articulação com o INEM para a receção dos eventuais contaminados, apurou o Expresso junto das unidades de saúde.

Face à progressão da epidemia, foi já na semana passada que a Direção-Geral de Saúde designou os hospitais de São João, no Porto, e o Curry Cabral e o Estefânia, em Lisboa, como os destinos para potenciais infetados. A responsabilidade dos hospitais apenas se dá com a chegada dos doentes à unidade hospitalar.

“O transporte destes doentes (casos suspeitos ou confirmados) deverá ser feito pelo INEM, que dispõe dos meios adequados”, explica o Hospital de São João. Aliás, fonte da mesma unidade esclarece que apenas será dada resposta a “situações de doença aguda” e que não está previsto que os hospitais sejam um local designado para quarentena de possíveis pacientes.

“Apenas doentes serão admitidos no internamento do Centro Hospitalar Universitário de São João; não temos informação de que esteja previsto o repatriamento de qualquer cidadão português que se encontre doente”, informam.

Da parte do Curry Cabral, em Lisboa, a informação é a mesma. Ao Expresso, Fernando Maltez, diretor do Serviço de Doenças Infecciosas, reforça que o plano de contingência já elaborado será aplicado apenas a pessoas infetadas ou com suspeitas de infeção. Este plano “contempla o isolamento dessas pessoas em quartos próprios no serviço de doenças infecciosas”. Nesse sentido, foram disponibilizados “14 isolamentos respiratórios de pressão negativa”, utilizados para acolher pacientes com doenças infecciosas.

Mas como o plano de contingência foi “preparado para garantir a segurança quer dos doentes, quer dos profissionais de saúde”, estão previstas outras medidas, como a existência “de circuitos de passagem” distintos e a entrega de “equipamentos de proteção individual”, como “batas, luvas, máscaras, óculos e toucas”. Está tudo a postos, incluindo no que diz respeito às “terapêuticas e métodos de diagnóstico a implementar”, diz ainda Fernando Maltez.

Hospital de São João preparou “espaços físicos e meios” para dar resposta ao vírus

No caso do hospital de São João, no Porto, o plano de prevenção – que será atualizado “conforme conhecimento da evolução da epidemia” – contempla “espaços físicos e meios” específicos que são alocados a esta resposta. Isso inclui médicos, cujo número depende da quantidade de “casos suspeitos ou confirmados” que venham a ser encaminhados e das suas características,”nomeadamente se adultos ou crianças e grau de gravidade”.

À semelhança do que acontecerá no Hospital Curry Cabral, os profissionais de saúde do hospital no Porto que prestam cuidados a estes doentes terão de usar “equipamento de proteção individual apropriado ao tipo e risco de transmissão deste agente” que, “dependendo da atividade que se vai exercer”, irá passar pela utilização de “máscaras, batas, luvas e proteção ocular (óculos ou viseiras).

Apesar de o plano ser específico – por ser um novo vírus e, como tal, com “características próprias” –, o Hospital de São João admite que há pontos de contacto com doenças anteriores, como a gripe das aves ou a gripe A. “Há naturalmente semelhanças com anteriores doenças emergentes na forma como se transmite, como se tem dado a evolução da epidemia e nas implicações em termos de saúde pública e medidas de controlo”, admitem.

Fernando Maltez acrescenta que o Curry Cabral já “ativou vários planos de contingência para outras ameaças de doenças infecciosas” e que estes planos “vão sendo modificados e atualizados”, com alterações ao nível dos equipamentos de proteção individual, como aconteceu com o surto de ébola que teve origem na República Democrática do Congo, “que se transmite por contacto com qualquer fluido orgânico” e não “apenas por via respiratória”, como no caso do coronavírus.

Quanto às precauções a tomar, o especialista refere que são as mesmas que num caso de gripe, incluindo para as pessoas que convivam com os portugueses que vão ser retirados em breve de Wuhan – tudo indica que já esta sexta-feira – e colocados sob vigilância em casa por um período de 14 dias, mediante uma análise caso a caso.

“Estes cidadãos não precisam de permanecer sozinhos em casa, podendo conviver com familiares e amigos desde que usem máscara e lavem as mãos. Aqueles que convivem com eles também têm de fazer o mesmo”, ressalvou.

Os sintomas do coronavírus são parecidos aos de uma gripe, mas mais intensos: febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias, incluindo falta de ar.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hrbento@expresso.impresa.pt

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