Luís Sottomayor chegou às caves de Gaia numa Dyane emprestada pelo pai, depois de quase ter atropelado um homem. No início, nem o deixavam entrar na sala de provas. Agora, aos 56 anos, comemora três décadas de vindimas no Douro, um vinho do Porto duplamente distinguido com 100 pontos e o lançamento de um novo Barca Velha. De tanto ouvir o avô tocar piano, ficou-lhe o gosto por Chopin, mas não recusa um pop na moda. Na música como no vinho, o que importa é o equilíbrio
Do restaurante vê-se o Tejo. Está mais habituado a olhar o Douro. A janela da sua sala de provas é enorme, tem vista para o rio, para o Porto. Todas os dias, entre as 11h da manhã e a 1h da tarde, desliga o telemóvel. A mesa enche-se de amostras de vinho, é a hora da prova. O chefe aproxima-se, recomenda o pão. Luís coloca os óculos, percorre a carta de vinhos. Não há nenhum dos seus, escolhe um branco dos Açores. Tem um gosto especial pelo arquipélago, volta e meia voa até lá para caçar. Há paixões que se herdam, e ele leva o berço a peito. Traz de pequeno o gosto pela caça, pelo Clube Portuense. E pelo vinho. Estreou-se no Douro, por entre tanoeiros que juravam ser atormentados por um padre sem cabeça e adegas despidas de máquinas. Tem três filhos, todos acostumados a provar, nenhum com queda para a vindima. Tem papel principal na enologia da Sogrape. E tem o sonho de urdir um vinho branco com tantos pergaminhos quanto o Barca Velha. No Douro. Em casa.
Passa a vida em restaurantes?
Não. Felizmente, não. Em 2019, a vindima foi muito longa, começámos a 2 de setembro e acabámos no final de outubro. Se fui duas vezes a restaurantes foi muito. Comia sempre nas cantinas das adegas, para almoçar com o pessoal.
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