Sociedade

PSP abre inquérito a alegada agressão de uma mulher por parte de um agente da polícia

Cláudia Simões, angolana de 42 anos, contou ter sido agredida junto à paragem de autocarros na Amadora onde foi abordada por um agente da PSP e também no carro da polícia em que foi transportada para a esquadra. A PSP desmentiu a maioria das alegações, falando em agressividade e garantindo ter utilizado a “força estritamente necessária para o efeito face à resistência” da mulher

PSP abre inquérito a alegada agressão de uma mulher por parte de um agente da polícia

Helena Bento

Jornalista

PSP abre inquérito a alegada agressão de uma mulher por parte de um agente da polícia

Raquel Moleiro

Jornalista

A PSP anunciou esta terça-feira a abertura de um inquérito às alegadas agressões de que terá sido vítima uma mulher de 42 anos às mãos de um agente da polícia, na Amadora.

O incidente ocorreu na noite de 19 de janeiro, na Amadora. Ao jornal “Contacto”, semanário luxemburguês em língua portuguesa, a angolana de 42 anos, de nome Cláudia Simões, contou ter sido violentada por um agente da polícia à chegada à paragem de autocarros no Bairro do Bosque, naquela cidade. A sua filha havia-se esquecido do passe de autocarro em casa e o motorista terá feito queixa a um polícia que estava por perto. Segundo Cláudia Simões, este ter-lhe-á pedido o cartão de identificação e, não obtendo uma reação à sua exigência, tê-la-á agredido, inclusive “apertando o pescoço”. Para se libertar, Cláudia Simões assumiu ter “mordido a mão do polícia”, tendo este, além disso, “empurrado” a sua filha.

Fotografia cedida pelo jornal Contacto.

PSP alega que mulher “mostrou-se agressiva”

Em comunicado, a PSP desmente a maioria das alegações, esclarecendo que um agente da polícia “que se encontrava devidamente uniformizado a circular na via pública [segundo Cláudia Simões, o polícia saía de um estabelecimento comercial quando foi abordado pelo motorista do autocarro e não estaria de serviço]". Segundo a PSP, por volta das 20h30, o agente terá sido abordado pelo motorista de autocarro de transporte público que solicitou auxílio face à recusa da cidadã em pagar o bilhete do transporte da sua filha, mas também pelo facto de ter sido "ameaçado e injuriado”.

Depois de perceber o que se passava, o agente da PSP “dirigiu-se à cidadã” que, “de imediato e sem que nada o fizesse prever, se mostrou "agressiva perante a iniciativa do polícia em tentar dialogar, tendo por diversas vezes empurrado o Polícia com violência, motivo pelo qual lhe foi dada voz de detenção”. A partir daí, refere o comunicado, outros cidadãos que se encontravam do autocarro “tentaram impedir a ação policial, pontapeando e empurrando o polícia”. Este, encontrando-se “sozinho”, e “para fazer cessar as agressões da cidadã detida, procedeu à algemagem da mesma, utilizando a força estritamente necessária para o efeito face à sua resistência”. De acordo com a PSP, e depois do ocorrido, o referido polícia terá sido levado para o hospital “com a mão e o braço direitos com marcas de mordidelas”.

Cláudia Simões garante ter sido agredida no carro da polícia

Com a chegada de “reforço policial”, a mulher acabaria por ser detida e levada para a esquadra, diz ainda a PSP, mas ao jornal luxemburguês Cláudia Simões garante que a história não terminou nesse momento: "Durante o caminho todo fui esmurrada enquanto estava algemada. Ele gritava 'filha da puta', 'preta do caralho' e 'cona da tua mãe' enquanto me dava socos. Eu estava cheia de sangue e gritava muito. Então, subiram o volume da música para não me ouvirem na rua”. Em vez da esquadra, Cláudia Simões contou ter sido levada para o Hospital Fernando da Fonseca para receber tratamento, dados os seus ferimentos.

A PSP confirma-o, referindo que a ida ao hospital, pelas 22h00. “O polícia foi igualmente assistido no mesmo hospital”. Segundo o Expresso apurou junto de fonte hospitalar, o relatório de Cláudia Simões, que esteve em observação “durante uma hora”, fala em “hematomas” e o do agente da polícia em “escoriações”. Cláudia Simões terá sido aconselhada a requerer uma cópia do relatório para posterior utilização legal.

No comunicado, a PSP confirma a existência de uma denúncia de Cláudia Simões contra o agente que procedeu à sua detenção e anuncia a “abertura de processo de averiguações para, a par do processo criminal, proceder à averiguação formal das circunstâncias da ocorrência e de todos os factos alegados pela cidadã”. Foram ouvidas várias testemunhas que se encontravam no local e, segundo fonte da polícia ao Expresso, vão ser requeridos os relatórios médicos — tanto de Cláudia Simões como do agente da polícia — para perceber exatamente o que aconteceu.

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