Nuno Melo, atualmente com 27 anos, é acusado pelo Ministério Público de 583 crimes de abuso sexual de crianças e 73.577 de pornografia de menores. As vítimas são oito rapazes e raparigas, quase todos bebés na altura dos factos. São primos e sobrinhos do principal suspeito que confessou os crimes durante o julgamento que decorreu no Campus da Justiça, em Lisboa.
A leitura da sentença está marcada para esta segunda-feira e o Ministério Público pediu a pena máxima não só para Nuno Melo, que na darkweb usava nomes como ‘Twinkle’, ‘Dragoslav’, ‘Drago’, ‘Lullaby’ ou ‘Batman’, mas também para Michael Appleton, alegado cúmplice e também acusado de abusar do enteado e da filha bebé. Durante o julgamento, a procuradora lamentou que as vítimas tenham ficado "marcadas para a vida". "São crimes horrendos", concluiu a magistrada.
De acordo com a acusação, o principal suspeito abusou dos menores durante quatro anos, entre 2013 e 2017 quando foi detido pela Polícia Judiciária depois de um pedido de colaboração da polícia australiana que apreendeu imagens e filmes de abuso sexual de menores e bebés que teriam sido enviadas de Portugal. Nuno Melo terá fundado e gerido um site na darkweb, chamado “Baby Heart”, onde disponibilizava as fotografias e filmes dos abusos aos primos e sobrinhos que ficavam a seu cargo quando os pais se ausentavam. Para aderirem, os candidatos a membros tinham também de partilhar imagens do mesmo teor para ganharem pontos e encherem um coração que lhes dava direito a pertencer ao clube.
Para além dos dois alegados pedófilos, foram julgados os pais e duas primas de Nuno Melo (mães das crianças abusadas) que, segundo o Ministério Público, sabiam dos abusos e encobriram tudo. Isto porque, em 2012, o suspeito já tinha sido detido e depois condenado a uma pena suspensa no Tribunal de Aveiro pelo mesmo tipo de crimes.
Os juízes justificaram a suspensão da pena com a juventude do suspeito (na altura tinha apenas 19 anos) e condenaram-no a ser seguido e tratado numa unidade psiquiátrica. O relatório do psiquiatra que o seguiu classificava Nuno Melo como "potencialmente perigoso".
Quando foi julgado, gabou-se aos cúmplices de a policia portuguesa ser "otária". Quando foi detido pela PJ, estava numa cama com dois menores. Os três estavam despidos. O outro suspeito foi detido no mesmo dia quando, segundo a acusação, se preparava para abusar do enteado e da filha numa casa que tinha alugado propositadamente para o efeito.
A SIC ouviu os pais do suspeito, que negaram ter tido conhecimento de qualquer crime. "Isso é impossível, impossível, impossível", repetiu o pai. Para o MP, é impossível que os pais não soubessem que o filho iria abusar das crianças quando se fechava no quarto com elas.
Nalgumas das mensagens intercetadas pela PJ e citadas na acusação, o principal suspeito diz: "Atualmente prefiro bebés a meninas" ou "se tiver dois anos é seguro se não os magoarmos". Apesar de ter admitido os abusos em tribunal, negou ter tido qualquer lucro e expllcou que não obrigava os menores a nada. "Eu pedia, não ordenava". E também negou ter algemado ou amarrado as vítimas, como disse a acusação. "Enrolei alguns fios".
O trabalho do laboratório de polícia foi fundamental para deslindar o caso porque conseguiu tirar uma impressão palmar de uma das imagens apreendidas (por precaução os membros do "Baby Heart" só mostravam as mãos e nunca a cara) que correspondia à do principal suspeito. Por causa disso, ganharam um prémio internacional.
Veja aqui a reportagem da SIC sobre este caso.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: RGustavo@expresso.impresa.pt