Sociedade

Desempenho dos alunos cai a ciências e mantém-se a matemática e leitura

Desempenho dos alunos cai a ciências e mantém-se a matemática e leitura
ESTELA SILVA/LUSA

Depois da proeza de há três anos, em que os alunos ficaram pela primeira vez acima da média da OCDE na leitura e em ciências, os resultados apontam agora para uma estabilização na classificação na leitura e matemática em relação a 2015. Só a ciências é que a descida da pontuação é considerada relevante pela OCDE. Mas a evolução ao longo dos anos é claramente positiva. Portugal é dos poucos países que melhoraram nas três áreas desde a primeira participação nos testes do PISA

Longe vão os tempos em que Portugal aparecia no fim da tabela do desempenho educativo e o país é agora assinalado como um dos “poucos com uma trajetória positiva em todos os três domínios de literacia” avaliados pelo PISA (Programe for International Student Assessment), o maior teste na área da Educação, realizado de três em três anos e que abrangeu em 2018 um número recorde de 79 países/economias e uma amostra de 600 mil alunos de 15 anos. Os resultados, divulgados esta terça-feira, colocam os jovens portugueses na média da OCDE no que respeita à leitura, matemática e ciências.

Se a comparação for feita olhando para o trajeto percorrido desde a primeira participação, em 2000, o balanço é claramente positivo. Entre um estudo e outro pode ter havido variações negativas. Mas os ganhos ao longo do período são evidentes nas três áreas e bem acima da variação média na OCDE.

Só mais seis países/regiões se podem gabar do mesmo, nota o relatório da organização. Além de Portugal, destacam-se Albânia, Colômbia, a região de Macau, Moldávia, Peru e Qatar (que não pertencem à OCDE embora participem no PISA). Ter partido atrás da maioria dos países ajuda à subida, mas nem todos conseguiram fazê-lo.

O domínio dos asiáticos e a queda da Finlândia

Por outro lado, outros sete países fizeram o percurso inverso, com um declínio do seu desempenho médio. Um deles é a Finlândia, apesar de continuar a ter resultados muito bons. O país continua bem acima da média da OCDE nos três domínios e consegue a segunda pontuação mais elevada na literacia de leitura (a par com o Canadá), que é o tema em foco na avaliação de 2018.

Entre os países membros da organização, o destaque vai agora a Estónia, cujos alunos apresentaram a classificação mais alta a leitura e ciências e a segunda mais elevada na literacia matemática.

Fora do espaço da OCDE, os países asiáticos continuam a dar cartas. Três países/economias deste continente obtiveram as melhores pontuações médias em todos os domínios avaliados: a região de Pequim-Xangai-Jiangsu-Shejiang, Singapura e Macau.

Quanto a Portugal, o resultado de 492 pontos na literacia em leitura coloca os alunos portugueses ao nível dos colegas alemães ou franceses. A descida de seis pontos face ao teste de 2015 não é estatisticamente significativa. A média da OCDE ficou nos 487 pontos.

A matemática, a variação face a 2015 é nula e os 492 pontos ficam igualmente ao nível da média da OCDE (489 pontos). Já a ciências, os nove pontos de queda no desempenho face ao último teste (ficou agora também nos 492 pontos) são considerados estatisticamente significativos. Portugal deixou de estar acima da média da OCDE para estar no mesmo nível. O relatório sublinha o facto de a evolução em literacia científica ter sido negativa na maioria dos países.

20% dos alunos abaixo do nível mínimo

Mas mais do que o resultado global, interessa perceber em que patamar de proficiência se encontram os alunos. Por outras palavras, até que nível de complexidade conseguem ir nos exercícios que lhes são propostos.

No caso dos jovens portugueses e na literacia em leitura, um em cada cinco (semelhante ao valor médio da OCDE) não chegou ao nível 2 (numa escala até 6), assumido como o mínimo indispensável para ter sucesso nas tarefas do dia-a-dia. Os alunos abaixo do nível 2, que se considera apresentarem “baixos desempenhos”, só têm sucesso na compreensão do significado literal de frases de pequenas passagens, na identificação do tema principal num texto sobre o assunto que lhe diga respeito ou na análise de textos breves.

A meta definida pela União Europeia para 2020 era ter menos de 15% dos jovens abaixo deste nível, pelo que o valor de 20% ainda fica aquém. E o pior é que comparando com 2009, o ano em que a leitura também foi o principal domínio testado no PISA, a percentagem piorou em 2,6 pontos percentuais.

Outro problema nacional é a questão da desigualdade social se refletir de forma determinante no sucesso académico. Assim, a probabilidade de um aluno entre os 25% mais desfavorecidos obter uma pontuação abaixo do nível 2 é três vezes maior do que a de um aluno com estatuto socioeconómico superior, nota-se no relatório produzido pelo Instituto de Avaliação Educativa, responsável pela aplicação do PISA em Portugal.

No topo da escala e demonstrando capacidade de executar bem os exercícios mais complexos de compreensão e abstração estão 7% dos estudantes portugueses, ligeiramente abaixo dos 9% da média da OCDE.

Público e privado igual

Por sexo, as raparigas têm desempenhos superiores a leitura, tal como acontece em todos os países participantes no PISA. Curiosamente, os resultados dos alunos das escolas públicas e das privadas foram praticamente idênticos na literacia em leitura e também a ciências.

Outro característica que se repete de estudo para estudo é o facto de os alunos de 15 anos que ainda se encontram no 7º e 8º anos apresentarem resultados no PISA significativamente mais baixos quando comparados com os dos seus colegas do 9º e do 10º, o nível de escolaridade em que devem estar com aquela idade se não tiverem chumbado nenhuma vez.

Mas também neste capítulo houve melhorias. Ou seja, quem já chumbou continua a ter, em média, piores desempenhos, como seria de esperar. Mas os seus resultados estão melhores do que no início da aplicação dos testes PISA, em 2000. E há mais alunos na amostra a frequentar o 10º ano, como consequência da diminuição das retenções.

[artigo atualizado às 11h01]

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