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Seca em Portugal: temperatura pode subir até 5ºC no final deste século XXI, precipitação cai 80% nos meses de verão

Seca em Portugal: temperatura pode subir até 5ºC no final deste século XXI, precipitação cai 80% nos meses de verão
José Fernandes

Até ao ano 2100, a precipitação, ao nível de toda a Península Ibérica, deverá diminuir entre 20 a 40%. Aquecimento global que se faz sentir no momento presente “vem do acumulado de emissões desde a revolução industrial”. “O grande mal está feito", diz Alfredo Rocha, professor de Meteorologia e Clima do Departamento de Física da Universidade de Aveiro

Seca em Portugal: temperatura pode subir até 5ºC no final deste século XXI, precipitação cai 80% nos meses de verão

Fábio Monteiro

Jornalista

A jovem Greta Thunberg tem motivos para estar preocupada. O Acordo de Paris, assinado em 2015, estipulou uma série de medidas para a redução de emissão de gases de estufa, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2.ºC. Essa meta, contudo, há muito que caducou. Dois estudos recentemente publicados pela Universidade de Aveiro (UA) traçam um futuro climático complexo para Portugal: até ao final do século XXI, a temperatura irá aumentar 2,8 ºC nas zonas costeiras e 5 ºC nas terras altas; ao mesmo tempo, o volume de precipitação deverá diminuir – aumentando assim os períodos de seca extrema -, em cerca de 10% no litoral, 30% na zona centro e interior do país. “São os valores que indicam as previsões, e eu acredito que estejam corretos”, diz Alfredo Rocha, professor de Meteorologia e Clima do Departamento de Física da UA e co-autor dos dois estudos.

De acordo com o investigador, o aquecimento global que se faz sentir no momento presente “vem do acumulado de emissões desde a revolução industrial”. “O grande mal está feito. O que viermos a fazer nas próximas décadas, e as medidas de mitigação que forem implementadas, só vão ter impacto no século XXII. Será para os nossos netos ou bisnetos”, diz.

“A Península Ibérica já experiencia a desertificação como consequência das alterações climáticas devido à emissão de gases de estufa, em particular nas regiões do sul”, lê-se no estudo “Episódios de precipitação extrema devido às alterações climáticas na Península Ibérica”. Alfredo Rocha afasta o adjetivo apocalíptico, mas confirma que o cenário não é otimista. “A tendência é clara”, assume.

O estudo dedicado à precipitação na Península Ibérica indica que, no futuro, deverão ocorrer cada vez mais fenómenos extremos: “cheias-repentinas que podem perturbar atividades sociais e económicas” e “longos períodos de seca”. Até ao ano 2100, a precipitação, ao nível de toda a Península Ibérica, deverá diminuir entre 20 a 40%.

Ora, para Portugal, períodos de seca extrema são já um problema de hoje. O Expresso noticiou ainda no último fim de semana que dois terços do país estavam em seca severa ou extrema. Nos primeiros 12 dias de outubro não caiu uma pinga de água em todo o território continental. (Entretanto, a chuva chegou.)

Sem surpresas, a zona sul de Portugal será a mais afetada pela falta de precipitação. No período temporal 2081 a 2100, o estudo “Mapeamento da falta de água potável devido às alterações climáticas” revela que a precipitação deverá diminuir cerca de 80% durante os meses de verão, no Alentejo e Algarve. Como exemplo, Alfredo Rocha evoca o caso de Beja. “Durante o verão a precipitação atual é muito pequena, perto de 25 mm. Uma redução de 80% fará, então, com que chova, no máximo de quatro a cinco mm, valor mais do que insuficiente para a reposição dos recursos aquíferos”, aponta.

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