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Há um novo estudo sobre alegados malefícios das carnes vermelhas que está a causar celeuma

Há um novo estudo sobre alegados malefícios das carnes vermelhas que está a causar celeuma
Justin Sullivan/Getty Images

Não existem fundamentos suficientes para relacionar a ingestão deste tipo de carne e das carnes processadas com problemas de saúde como o cancro, diabetes ou doenças cardíacas, conclui o estudo internacional publicado na revista Annals of Internal Medicine. As críticas não se fizeram esperar

Há um novo estudo sobre alegados malefícios das carnes vermelhas que está a causar celeuma

Mafalda Ganhão

Jornalista

Ao contrário do que outros investigadores têm veiculado, uma nova investigação internacional vem agora questionar os alegados malefícios do consumo de carnes vermelhas e processadas, sublinhando que não existem fundamentos suficientes para relacionar a ingestão deste tipo de carne com problemas graves de saúde. O trabalho publicado na revista Annals of Internal Medicine já foi fortemente criticado.

Na investigação estiveram envolvidos 14 autores, uma equipa liderada por Bradley Johnston, professor associado de saúde comunitária na Universidade Dalhousie, em Halifax, Canadá. A conclusão apresentada é simples: “Não podemos afirmar com certeza que comer carne vermelha ou processada provoca cancro, diabetes ou doenças cardíacas”.

Numa época em que o apelo para a redução do consumo de carnes vermelhas é feito também em nome do ambiente, por causa das emissões de gases de efeito estufa provenientes da criação de animais, este é um trabalho contra-corrente.

Desde logo contraria a Organização Mundial de Saúde, mas também vários outros organismos de saúde que associam as carnes vermelhas e processadas ao cancro.

Em que ficamos? O professor Louis Levy, diretor do departamente de ciências da nutrição da Public Health England, sublinha que, “globalmente, os dados disponíveis indicam que as pessoas que comem carne vermelha e processada devem limitar a sua ingestão”. “Embora esta possa fazer parte de uma dieta saudável, comer demais pode aumentar o risco de desenvolver cancro do intestino”, acrescentou, citado pelo “The Guardian”.

Mais violentas foram as críticas do principal autor da Comissão EAT-Lancet, que em janeiro defendeu uma dieta à base de vegetais, em nome da sustentabilidade ambiental e da saúde.

Para Walter Willett, professor de epidemiologia e nutrição da Harvard TH Chan School of Public Health, “este relatório acumula falhas”, nomeadamente pelo facto de muitos dos participantes do estudo serem jovens, logo menos suscetíveis de contraírem as doenças durante o curto período de tempo envolvido nos ensaios.

Outros investigadores concordaram com a equipa internacional, considerando que muitos dos estudos existentes deixam em aberto ambas as interpretações - a carne fazer ou não fazer mal.

Em sua defesa, o coordenador da investigação chamou a atenção para os resultados. “Entre os 12 ensaios clínicos considerados, que incluíram cerca de 54.000 indivíduos, não encontrámos uma associação estatisticamente significativa ou importante que indique ser menor o risco de desenvolver doenças cardíacas, cancro ou diabetes entre os que consumiram menos carne vermelha e processada”, afirmou Bradley Johnston.

Em função disso, dos 14 autores do estudo agora divulgado, apenas três sugeriram uma redução do consumo de carnes vermelhas.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MGanhao@expresso.impresa.pt

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