O ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes revelou que não se lembra de ter visto o memorando da PJM sobre a encenação das armas de Tancos enviado pelo chefe de gabinete por WhatsApp para o seu telemóvel, a 20 de outubro de 2017, dois dias depois do achamento das armas de Tancos. Azeredo Lopes admite que possa ter apagado a mensagem. “Tinha por hábito todas as semanas apagar tudo. Foi o conselho que me deram por razões de segurança. “Antes de sair do ministério apaguei os telemóveis todos”, afirmou Azeredo Lopes ao juiz de instrução João Bártolo, no interrogatório no Tribunal de Instrução criminal (TIC), a 4 de julho, no dia em que foi constituído arguido no caso.
Azeredo não poupa nos adjetivos negativos para descrever a ação do major Vasco Brazão, inspetor da Polícia Judiciária Militar (PJM) no âmbito do processo de Tancos. “As suas declarações mostram que é alguém que está perturbado, é um mitómano, não está bom da cabeça”, declarou
Azeredo Lopes foi mais longe, afirmando que hoje, com o que sabe sobre o processo, tem uma visão muito negativa sobre a operação clandestina da PJM para recuperar as armas roubadas em Tancos. “Fui enganado de forma sistemática.” Confessou ao magistrado que não se certificou em como os militares da Judiciária militar tinham sabido do local onde se encontrava o arsenal, julgando ter sido através de uma denúncia anónima chegada ao piquete da PJM. Hoje percebeu que não foi um modus operandi daquela polícia, de que detinha a tutela, mas “uma operação criminosa”.
O arguido mais importante do caso não tem dúvidas de que a reunião que Vasco Brazão e o coronel Luís Vieira, então número um da PJM, no Ministério da Defesa, dois dias depois do falso achamento do armamento (numa altura em que foram recebidos pelo chefe de gabinete devido à ausência de Azeredo), teve apenas um objetivo: “Eles queriam que eu os amparasse, que os protegesse.”
Este interrogatório no TIC teve lugar uma semana depois do ex-ministro ter ido às instalações da Polícia Judiciária e ser ouvido, nessa altura como testemunha, pela procuradora Cláudia Porto. O MP esteve também presente no interrogatório do dia 4 de julho.
Sobre as reuniões pessoais que teve com Luís Vieira diz nao ter memória de alguns pormenores, nomeadamente se o coronel esteve em sua casa, como alega o MP. E que nessas conversas o diretor da PJM nunca lhe revelou o plano de encobrimento para a restituição das armas nem as negociações com o líder do assalto. As conversas versaram sobretudo, na versão de Azeredo, sobre o “profundo” desagrado de Vieira pelo facto de o processo ter sido retirado à PJM pela então procuradora-geral da República. “Não era visita de casas”, frisou.
Azeredo Lopes, que é acusado de quatro crimes no processo, deixou uma pergunta ao juiz e procuradora: “Que interesse tinha eu em ficar cúmplice de um crime? Qual era a minha vantagem?”. E garantiu que nunca agiria por vaidade em apresentar uma vitória da PJM sobre a Judiciária civil, que investigava o caso.
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