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Tancos. Quem é o papagaio-mor? “Não é necessariamente o Presidente da República”

A acusação de Tancos ameaça fazer subir a tensão em plena campanha eleitoral
A acusação de Tancos ameaça fazer subir a tensão em plena campanha eleitoral
Petinga/Lusa

Vasco Brazão, acusado pelo MP de arquitetar a operação encenada para recuperar o armamento furtado em Tancos, diz que o papagaio-mor “não é necessariamente” o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. O MP considera que há suspeitas de que o chefe da Casa Militar da Presidência sabia de tudo mas não tem provas suficientes para o acusar

Tancos. Quem é o papagaio-mor? “Não é necessariamente o Presidente da República”

Hugo Franco

Jornalista

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Rui Gustavo

Jornalista

Para justificar o arquivamento dos indícios relativamente a João Cordeiro, ex-chefe da casa militar da presidência da República, o procurador Vítor Magalhães viu-se obrigado a referir o nome de Marcelo Rebelo de Sousa para esclarecer uma dúvida suscitada por uma escuta telefónica. "Vais ver que o papagaio-mor não vai falar sobre Tancos tão cedo" dizia Vasco Brazão, major da PJ Militar, à irmã. "O Sá Fernandes já fez chegar à Presidência que eu tenho um e-mail que os compromete". A escuta foi feita em março de 2019 e mais tarde o inspetor-chefe da Judiciária militar foi confrontado no DCIAP com estas declarações. Explicou que se referia a "um e-mail que demonstra a existência de contactos com a Casa Militar do Presidente da República e que lhe foi reencaminhado por Luís Vieira, então diretor da PJM".

Brazão esclareceu que depois do assalto "Luís Vieira efetuou vários contactos telefónicos para o Chefe da Casa Militar do Presidente da República, contando-lhe que estavam a trabalhar na recuperação do material furtado".

E quem era o papagaio-mor? "São vários: desde o Júdice, o Presidente da República, ao Miguel Sousa Tavares", disse o major. Depois admitiu que "não" sabia se se estava a referir a Marques Mendes e por fim disse que "o papagaio-mor do Reino não é necessariamente o Presidente da República" mas sim "o Presidente da República e quem fala por ele, o Júdice, Marques Mendes e... a outra também do PSD."

Ricardo Sá Fernandes, advogado de Vasco Brazão já declarou publicamente que o cliente não se referia a Marcelo Rebelo de Sousa.

Confrontado com estas declarações, João Cordeiro negou ter recebido qualquer email de Vasco Brazão ou do coronel Luís Vieira. Ainda assim admitiu ter sido informado "da situação da investigação" embora nunca tivesse sabido de "qualquer acordo" com algum suspeito. A PJ viria a apreender emails de Luís Vieira para João Cordeiro no sentido de este interceder junto do presidente Marcelo Rebelo de Sousa para que a investigação do crime passasse novamente para a esfera da PJM. O MP conclui que João Cordeiro mentiu quando disse não ter recebido qualquer email de Luís Vieira,

João Cordeiro também disse que soube do "achamento" do material "pela comunicação social" mas o MP diz que falou nesse dia de manhã por telefone com Luís Vieira e que seria impossível que o diretor da PJM não o informasse da recuperação do material furtado.

Para o MP, "a prova existente" demonstra "contactos próximos com Luís Vieira" e "o teor das interceções telefónicas, as declarações de Vasco Brazão, a sua postura processual, ao faltar com a verdade permitem suspeitar que João Cordeiro pudesse estar a acompanhar as diligências paralelas que Luís Vieira e os arguidos da PJM estavam a levar a cabo à margem do Ministério Público e da PJ e tivesse conhecimento do acordo que foi efectuado com o autor da subtracção".

Ainda assim, e apesar de considerarem que estaria em causa um crime de abuso de poder, o MP justifica o arquivamento dos indícios com o facto de João Cordeiro não ter sido constituído arguido no início do processo e por não existirem "indícios suficientes que permitam ao Ministério Público deduzir e sustentar em juízo uma Acusação contra João Cordeiro, uma vez que não seria provável, só com a prova reunida, a obtenção de uma condenação pela prática de um crime de abuso de poder".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt

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